A direção da Escola Municipal Especial de Ensino Fundamental Helen Keller, especializada na educação de surdos, está descontente om o regimento recebido na última quinta-feira do Conselho Municipal de Educação (CME). O documento obriga a escola a adotar procedimentos previstos para escolas regulares, o que os instrutores consideram um desrespeito ao caráter especial da instituição - como diz o próprio nome - e principalmente à cultura dos surdos.
O desagrado se dá pela obrigação de adotar o serviço de Atendimento Educacional Especializado (AEE) e pela implantação da modalidade Educação Para Jovens e Adultos (EJA) para o turno da noite. A diretora da escola, Andrelise Sperb, avalia que não há necessidade de monitores para AEE, pois todos os instrutores da Helen Keller são especialistas no tratamento com surdos. Segundo a diretora, o EJA prejudica os alunos por desconsiderar suas necessidades especiais, diminuir o tempo de permanência na escola (não há encontros nas sextas-feiras, por exemplo) e ter excesso de horas-aula de disciplinas como matemática e português - que para o surdo é a segunda língua:
- Nos obrigam a ter o EJA para nos adequarmos ao padrão das escolas regulares, mas somos uma escola especial e não de inclusão. A lei está sendo mal interpretada e os surdos desrespeitados.
Em um vídeo postado no YouTube na semana passada, o instrutor Gustavo Perazollo ilustra como a situação é entendida:
_ A comunidade indígena vive no Brasil com sua língua própria e todo mundo respeita. Ora, eu também faço uso de outra língua e também tenho direito de ser respeitado como cidadão.
A presidente do CME, Gláucia Gomes, defende o regimento. Segundo ela, o órgão reconhece a capacidade dos instrutores em trabalhar com os surdos, mas verificou a necessidade de atendimento especializado para alunos com outras deficiências, tanto físicas quanto cognitivas. Quanto ao EJA, Gláucia avalia que o regramento é necessário para ampliar o sentido de escola da Helen Keller, que se confunde com instituição de assistência social,. A presidente garante que os alunos serão beneficiados e não haverá perda das características da escola:
- Desde as primeiras reuniões, no ano passado, ficou assegurado pela Smed que haverá disciplina de libras e cultura de surdos. O conselho ainda não percebeu, de fato, em que ponto se dá a resistência.
Na tarde desta quarta-feira, representantes da Helen Keller se reuniram com a Comissão de Educação da Câmara de Vereadores para manifestar a insatisfação. Na segunda-feira, às 14h, haverá reunião do Conselho Municipal de Educação com instrutores da escola. Às 18h, será a vez do órgão dialogar com os pais. Ambos os encontros ocorrem na Casa da Cidadania.
Educação para surdos
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