Uma mudança de modelo na segurança externa da Penitenciária Regional do Apanhador ameaça enfraquecer o policiamento ostensivo de Caxias do Sul. Por decisão do comando-geral da Brigada Militar (BM), os 26 PMs de municípios serranos que hoje recebem até R$ 3,5 mil mensais em diárias - além do salário - para atuar naquela prisão serão substituídos por policiais militares sem esse benefício lotados na cidade.
Com a medida, o Estado espera economizar cerca de R$ 100 mil mensais. Nos bastidores da BM, a alteração é considerada um equívoco, porque geraria outros gastos e acarretaria em menos servidores nas ruas.
Desde a inauguração da penitenciária, em outubro de 2008, uma força-tarefa da BM é responsável pela segurança externa. Ela é integrada por quatro PMs de Caxias e 22 de outras cidades da região. Além do salário, eles recebem cerca de R$ 100 diários para desempenhar a função. Cabe ao próprio servidor providenciar transporte, moradia e alimentação.
- Não é mais possível sustentar essa situação em razão do custo e também por recomendação do Tribunal de Contas. Com base nisso, a Brigada Militar vai alterar esse modelo - explica o comandante interino do Comando Regional de Polícia Ostensiva da Serra (CRPO/Serra), tenente-coronel Leonel Bueno.
Em abril deste ano, 73 policiais militares se formaram para atuar no policiamento de Caxias do Sul. O reforço foi tímido, já que o efetivo ideal para a cidade é de 700 servidores, mas há cerca de 460. Na época, a BM anunciou que esses novos PMs atuariam por 45 dias em ações especiais e depois seriam destinados a pelotões e companhias.
Não foi dito que parte deles faria segurança em prisão. Porém, nesta terça, o comandante regional disse ao Pioneiro que na época da formatura, já prevendo a substituição dos PMs do Apanhador por outros lotados em Caxias, o Estado destinou 32 dos 73 formandos para a penitenciária.
- Dos 32, apenas 22 vão para o Apanhador, onde já havia os quatro de Caxias. Assim, ainda ficaremos com mais 10 PMs de crédito para o policiamento ostensivo - explica Leonel.
Ouvindo policiais militares, que pedem anonimato para evitar represálias, o Pioneiro constatou que a situação desagrada. O pagamento de diárias era um estímulo para servidores trabalharem no Apanhador, um lugar isolado, longe de casa, onde no inverno se passa frio e no verão, calor, além de outras dificuldades oferecidas pela prisão criada para ser modelo no país.
Na nova segurança externa, os PMs que lá atuarem não receberão diárias e terão de ser levados diariamente de Caxias ao local de trabalho. O transporte e a alimentação - somente para quem fizer turno acima de seis horas de expediente - antes de responsabilidade do policial, deverão ser fornecidos pelo Estado, o que gerará gastos que antes não existiam.
Conforme Leonel, ainda não há cálculo sobre quanto será essa fatura. Para o comandante, o Estado terá essa resposta após um mês de funcionamento do novo modelo de serviço no Apanhador.
Um PM alerta sobre um outro efeito da mudança:
- A situação fará com que mais PMs saiam de licença ou peguem atestado médico para não trabalhar lá. Se isso ocorrer, com frequência, policiais militares serão retirados do policiamento ostensivo para substituir colegas no Apanhador, defasando ainda mais o já reduzido efetivo.
Brigada Militar
Segurança de penitenciária deve prejudicar policiamento de Caxias do Sul
Estado quer substituir guarda externa do Apanhador por PMs da cidade
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