
Durante uma semana, o Pioneiro acompanhou a movimentação na garagem da Secretaria de Obras, na Rua Visconde de Pelotas, ao lado da agência do INSS, em Caxias do Sul, e constatou: funcionários ganham horas extras sem trabalhar e usam veículos do município para fins particulares.
No vídeo, o flagrante da venda de vinho com a utilização de um caminhão da prefeitura:
A jornada de trabalho para os servidores públicos daquele setor, que fica no bairro Pio X, termina sempre às 17h30min. Depois desse horário, não há muito o que fazer. Entretanto, alguns servidores concursados permanecem no setor além do expediente apenas para receber horas extras com autorização da prefeitura. Detalhe: esses trabalhadores permanecem parados, sem ocupação, esperando as horas passar (veja o flagrante no vídeo abaixo).
Essas e outras irregularidades foram denunciadas por dois funcionários que convivem com o esquema há mais de um ano. A garagem da Visconde de Pelotas reúne caminhões e carros empregados para o transporte de cargas e pessoas, além de retroescavadeiras e tratores.
Como não há controle sobre as atividades dos trabalhadores ou sobre os veículos públicos, vários servidores cumprem o período extra remunerado jogando cartas ou conversando. Outras registram a entrada no serviço e voltam para casa, só retornando à tarde para encerrar o expediente.
Em alguns casos, carros e caminhões servem a fins particulares. Um motorista, por exemplo, usa o caminhão da prefeitura para vender e entregar vinhos em benefício próprio.
O novo secretário de Obras, Adiló Didomenico, foi alertado sobre os problemas. Indignado com a situação, Didomenico reuniu os chefes das equipes e advertiu sobre as irregularidades. Recentemente, a prefeitura anunciou o corte de horas extras em diversos setores para disciplinar o serviço público, sem relacionar a medida aos abusos.
Sabe-se, porém, que as portarias serão revogadas a partir do dia 1º de fevereiro, para combater os excessos. Na terça-feira, Adiló anunciou a implantação de um programa de monitoramento da frota da secretaria até o fim do ano.
Um dos funcionários, que pede o anonimato por temer represálias, diz que as horas extras são pagas indevidamente há mais de um ano:
- Até outubro, todo mundo batia o ponto em cartão de papel. Então, um funcionário de cada equipe ficava responsável por bater o cartão para os outros. Enquanto os colegas iam para casa, alguém ficava até sete, oito da noite para bater o cartão para todo mundo. Eu já fiz isso várias vezes. Os chefes das equipes têm conhecimento disso e também fazem. Todo mundo ganha. Agora ficou mais difícil, por um lado, mas continua fácil fazer hora extra sem trabalhar. A prefeitura colocou relógio (biométrico) em que vai a digital do dedo. Não tem como alguém fazer o rolo para os colegas. Ainda assim, o pessoal bate o cartão depois do horário sem necessidade. É só ficar parado lá no pátio, dentro dos pavilhões e esperar o tempo necessário para cumprir a jornada e outro tempo para a hora extra. Não dá nada mesmo.
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