
A casa de milhares de alviverdes já foi palco de momento inesquecíveis nestes mais de 50 anos desde a grande reforma do Alfredo Jaconi. Conquistas, decepções, vitórias marcantes e títulos que constroem a história do Juventude. Em meio à selva de concreto, que atualmente toma conta de uma cidade industrializada, o verde esmeralda resplandece no coração da cidade.
Cada torcedor tem a sua partida marcante no Jaconi. A vitória do título da Série B de 1994, as finais de Gauchão e Copa do Brasil, o gol de Zulu na épica virada contra o Londrina, pela Série D, o brilho de Renato Cajá no acesso à Série B, contra o Imperatriz. As vitórias contra a dupla Gre-Nal ou no clássico Ca-Ju. São tantos jogos, mas neste novo século um duelo se destaca pelo placar.
A histórica goleada sobre um multicampeão brasileiro, o Corinthians, por 6 a 1, no Brasileirão de 2003. Na época, o caldeirão nebuloso engoliu um gigante.
— Ficamos um pouquinho surpresos. Não acreditávamos que isso pudesse acontecer. Ainda mais com a envergadura do time do Corinthians. Foi uma alegria não só para nós da direção, mas a nossa torcida até hoje não esquece — lembra o presidente daquele ano, Marcos Cunha Lima.
Em um dia típico de inverno na Serra e com a presença da neblina, o Juventude balançou as redes com Mineiro, Neto, Marcelo, Hugo, Leonardo Manzi e Felipe. Do outro lado, Jamelli diminuiu para os paulistas. Em um momento raro do futebol brasileiro, o técnico Geninho concedia entrevista ainda no campo para o repórter da TV Globo, ao vivo, e antecipava a sua demissão do Timão.
50 ANOS DO JOGO DA NEVE

Outro duelo marcante foi o Jogo da Neve, que ocorreu em 17 de julho de 1975. Foi um amistoso entre Juventude e Inter de Santa Maria. O Ju venceu pelo placar de 2 a 0, com gols de Assis e Da Silva. O jogo foi realizado no período da noite, sob uma nevasca que cobria o verde da Serra.
— Foi a mais forte que eu vi na minha vida, até porque morava bem pertinho. Eu vim direto para cá (Jaconi). E aquilo marcou para o país inteiro. Apareceu em tudo — lembrou Carlito Chies, ex-presidente do Juventude.
O árbitro da partida foi Homero Rasbold. No intervalo, dirigentes do Juventude ofereceram aos jogadores graspa, bebida destilada típica da Itália, para dar uma esquentada no corpo dos atletas que foram ao campo apenas com o fardamento de jogo.
GUERREIRO JACONERO
O Jaconi é um lugar especial pra mim
LAURO
Ex-meio-campista do Juventude
Lauro Antônio Ferreira da Silva, o Laurinho, deixou os gramados, mas mantém a paixão alviverde. Morador de Caxias do Sul, acompanha o time na arquibancada, como torcedor. Ele disputou 572 jogos vestindo as cores do Juventude.
O último deles, como convidado especial ao lado de Cafu, no jogo comemorativo dos 100 anos diante do Nacional-URU, em 2013, vencido pelo Papo por 2 a 0. Laurinho chegou jovem a Caxias do Sul. Vindo do Alegrete, morou sob as arquibancadas da fortaleza alviverde.
— É a minha segunda casa. E eu falo isso com muita segurança, porque eu morei quatro anos embaixo da arquibancada do Jaconi quando eu cheguei de Alegrete. São os melhores anos da nossa vida, porque é onde ainda não sabemos se vamos dar certo como um jogador profissional e precisamos muito de uma oportunidade. E o Juventude significa tudo isso pra mim. A oportunidade de realizar um sonho. O Jaconi é um lugar especial — reflete Lauro.

O ex-volante chegou ao clube no começo dos anos de 1990 e viveu a era de ouro do Juventude. Lauro é um dos poucos atletas que esteve presente nos três principais títulos alviverdes, a Série B de 1994, o Gauchão de 1998 e a Copa do Brasil de 1999.
— Realmente me sinto um homem muito abençoado, por fazer parte da história de um clube do tamanho do Juventude, E não só fazer parte do grupo dos três títulos do Juventude, mas estar dentro do campo nos três como titular. São momentos que eu vou levar para sempre — frisou o Laurinho Guerreiro, como é chamado pela torcida.
A ERA PARMALAT

A parceria com a Parmalat foi importante para o Juventude na década de 1990. Serviu como propulsora para uma oxigenação dentro do clube, principalmente na gestão e visibilidade. E, obviamente, em questões estruturais.
A empresa italiana de produtos alimentícios, especializada em laticínios, chegou ao Juventude depois de oito meses de sigilo nas negociações. A direção realizou o anúncio oficial em 27 de maio de 1993, na gestão do presidente Marcos Cunha Lima.
— A Parmalat já estava no Palmeira e nós fomos buscar informação. No momento que veio o representante da Parmalat aqui para conversar, nós reunimos todos os cardeais do Juventude e fizemos uma recepção muito forte. Eles viram que o Juventude tinha aquela tradição, cultura italiana, aquele envolvimento , que o próprio Palmeiras também tinha, as cores. Tudo era bom — recordou o ex-presidente Marcos Cunha Lima.
Foi um sucesso. Além de aportarem um pouco de dinheiro, trouxeram muitos jogadores que nos ajudaram a formar as belas equipes e fazer as conquistas
MARCOS CUNHA LIMA
Ex-presidente do Juventude

Como resultado da parceria, diversos jogadores vieram ao Juventude nos anos 1990. O intercâmbio de atletas entre Juventude e Palmeiras iniciou em 1993, quando chegaram ao Jaconi o goleiro César, o lateral-direito Odair e o volante Galeano. Mais jogadores desembarcaram em Caxias do Sul vindos de São Paulo, como o lateral Paulo Sérgio, o volante Dorival Júnior, os meias Jean Carlo e Marquinhos e o atacante Alex Alves. Outros nomes marcantes do período da parceria foram o lateral-esquerdo Paulo Roberto, os atacantes Macula e Mauricinho e o centroavante Mário Maguila.
— Foi um sucesso. Além deles aportarem um pouco de dinheiro aqui, trouxeram muitos jogadores que nos ajudaram a formar as belas equipes e fazer as conquistas necessárias. Tudo que nós queríamos fazer, nós não tínhamos condições financeiras. E a Parmalat vinha com as ideias, nos trazendo esses recursos. Para o ataque, eles compraram, na ocasião, três jogadores nossos. O Adaílton, que hoje está trabalhando no Inter, o Lauro e o Edson. Esses foram para o Palmeiras e depois voltaram para o Juventude. Os jogadores que aqui vieram do Palmeiras eram de alto nível — destacou o dirigente.
AS GRANDES CONQUISTAS
SÉRIE B DE 1994

A primeira grande conquista do Juventude no novo Alfredo Jaconi veio 19 anos depois da grande reforma. Em 1994, um ano depois da parceria com a Parmalat, o Juventude já colhia os frutos. O time conquistou a Série B do Brasileiro. A taça veio em 4 de dezembro, quando o Verdão bateu o Goiás por 2 a 1, no Alfredo Jaconi. Assim, nascia a primeira estrela do escudo alviverde. O acesso para a Série A já havia sido conquistado uma fase antes, diante do Americano, também em casa.
— O nosso grupo era muito forte, se preparou para aquele momento, mas a final contra o Goiás aqui, 2 a 1, um jogo difícil, fizemos o gol mais pro fim do jogo. Eu guardo com o maior carinho aquela campanha, porque apesar de ser uma campanha vitoriosa, foi o primeiro título, a primeira vez que a gente andou de caminhão de bombeiro na cidade de Caxias do Sul — descreveu Lauro, campeão nacional.

Naquela época, o Alfredo Jaconi ainda não tinha os camarotes do lado oposto ao setor social. O espaço contava com uma arquibancada de concreto. Somente em 1999 foi construído o setor coberto com os camarotes.
O Júnior, para nós, foi um exemplo de atleta que passou por aqui
MARCOS CUNHA LIMA
Ex-presidente do Juventude
Em campo, o time contava com Júnior. Apesar de ser discreto, ele era um dos personagens da conquista pela liderança. Atualmente, ele é conhecido como Dorival Júnior, técnico da Seleção Brasileira.
— O Júnior sempre teve aquela parte simples dele. Ele teve sempre bons princípios. Ele e o Odair eram os representantes do grupo na hora de negociar bicho e premiação. Ele sempre teve um comportamento muito profissional. Então, o Júnior, para nós, foi um exemplo de atleta que passou por aqui — conta Marcos Cunha Lima.
O time de 1994 tinha muitos jogadores das categorias de base, uma marca do Juventude. Os goleiros Isoton, Márcio e Humberto, os laterais Itaqui, Edson Kaspary e Ericson, os zagueiros Paulo Marcelo e Baggio, o volante Lauro e o atacante Jardel eram oriundos da casa jaconera.
GAUCHÃO DE 1998

No dia 7 de junho, o Juventude foi campeão Gaúcho pela primeira vez na sua história. Foi uma conquista invicta. Após vencer por 3 a 1 no Estádio Alfredo Jaconi, com dois gols de Flávio Campos e um de Lauro, o Verdão segurou um Beira-Rio lotado em 0 a 0.
— Eu não só fiz o terceiro gol, como participei dos três gols desse jogo. Ganhamos de virada do Inter aqui, onde a gente encaminhou o título do Campeonato Gaúcho. Então, esse também foi um jogo muito marcante, talvez um dos melhores que eu fiz em toda a minha carreira — disse o ex-jogador Lauro.
Com o troféu verdadeiro entregue no vestiário, o Juventude voltou para Caxias do Sul para fazer a festa com a sua torcida. A taça é toda de vidro e fica exposta no memorial do clube, dentro do Estádio Alfredo Jaconi, sob uma redoma de vidro.
O comando do time foi de Lori Sandri. E o grande mérito do técnico foi manter unido e forte um grupo que tinha jovens e jogadores mais experientes. Em cima da base de 1997, Lori ganhou reforços como Sandro Sotilli (ex-Inter), Rodrigo Gral (ex-Grêmio) e Sandro Fonseca (ex-Portuguesa). Campeão brasileiro pelo Flamengo e pelo São Paulo, o capitão Flávio Campos lembra da união do grupo.

— O nosso time tinha umas figuras muito engraçadas. Tinha o Gral e o Sotilli, que eram os nossos atacantes. Na ocasião dois meninos, mas eles eram muito engraçados e contávamos com o Marcão, volante. Uma vez a gente estava no vestiário e bate na porta um rapaz com um buquê de flores com um bilhetinho dizendo: "ao excelente atleta Marcos Rogério. Marcão, muito obrigado pelo grande desempenho, nós torcedores te amamos". Mas foram checar a origem do buquê e o sem vergonha do Marcão tinha mandado para ele mesmo — riu Flávio ao lembrar.
COPA DO BRASIL 1999

Antes da chegada do novo milênio, o Juventude rompia novamente as fronteiras do Rio Grande e conquistava o Brasil. A campanha da Copa do Brasil de 1999 começou no Distrito Federal, diante do Guará, com uma vitória por 5 a 1 e terminou no Rio de Janeiro, no Maracanã, calando mais de 100 mil almas em um 0 a 0 dramático contra o Botafogo.
Guiado por Valmir Louruz, o time encaminhou a conquista inédita da sua história dentro do Alfredo Jaconi, no dia 20 de junho, com um triunfo por 2 a 1 sobre o time da estrela solitária.
— A construção foi ali e não foi uma coisa tão simples. Nesse jogo do Botafogo, estávamos vencendo por 2 a 0. A gente teve dois "poréns" nessa partida. Tivemos um gol em que erramos e a gente proporcionou o gol do Bebeto, que foi o 2x1, e tivemos um atleta expulso. E, aliás, esse expulso temos que agradecer o Capone, porque ele foi expulso por ser o último homem, senão seria gol do Botafogo. Depois, felizmente tivemos a tranquilidade, o equilíbrio para suportar no Maracanã e conseguir levar o título para o Jaconi — comentou Flávio Campos, capitão da época.
Na campanha da conquista do Brasil, o Juventude massacrou um outro carioca. O Tricolor das Laranjeiras sucumbiu no Estádio Alfredo Jaconi no dia 7 de abril de 1999. Com quatro gols de Flávio Campos, o Verdão fez 6 a 0 no Fluminense, na segunda fase do torneio.
— Esse foi o jogo mais marcante para mim. Eu fiz quatro gols, algo que nunca aconteceu na minha vida. É raro um atleta ter essa oportunidade, e mais ainda pelo fato de ser contra o Fluminense — afirmou Flávio Campos.
LIBERTADORES

A casa do Juventude também recebeu competições internacionais. Em 2005, foi palco do duelo contra o Cruzeiro, pela Sul-Americana. Porém, os jogos mais marcantes foram pela Libertadores.
No dia 16 de fevereiro de 2000, a torcida alviverde comparecia ao Alfredo Jaconi para acompanhar a estreia do time diante do El Nacional, do Equador. O jogo terminou com vitória do time da Serra por 1 a 0, gol de Mabília.
— Costumo lembrar aqueles momentos na concentração, a gente conversando sobre esse fato de jogar uma competição a nível internacional. Infelizmente, a gente não classificou, tivemos bastante dificuldade na Bolívia, com a altitude. Naquele ano o Palmeiras chegou na final. Mas ficamos extremamente felizes por essa passagem — comentou o goleiro Humberto Flores, que também integrou os elencos dos três títulos mais importantes do clube
O grupo 7, do Verdão, tinha ainda o Palmeiras e The Strongest. O Papo somou sete pontos em seis jogos e ficou na terceira colocação na chave. Nos outros dois jogos no Jaconi, a equipe empatou com Palmeiras em 2 a 2 e goleou o The Strongest por 4 a 0. Na época, a premiação pela participação era de U$ 450 mil, cerca de R$ 795 mil na conversão.
— Eu me lembro da alegria, da satisfação de poder vestir a camisa do Juventude numa competição internacional. A gente vê assim, não são tantos jogadores que jogam uma Libertadores, porque é uma competição extremamente difícil — finalizou o goleiro.
PELÉ NO JACONI

Antes de deixar o plano material em 2022, Edson Arantes do Nascimento marcou seu nome no mundo. Virou Pelé, o rei maior do futebol. Ele brilhou com a amarelinha e também conheceu o Estádio Alfredo Jaconi.
Ainda menino, com apenas 16 anos, entrou em campo na antiga casa alviverde, no dia 11 de março de 1957, um ano antes da sua primeira Copa do Mundo. O jovem participou de um amistoso entre Santos contra um combinado de atletas do Juventude e do Flamengo, de Caxias do Sul.
Em uma tarde de domingo, Pelé entrou no segundo tempo do amistoso. O jogo estava 1 a 0 para a seleção Fla-Ju. Aos 20 minutos, Melão, que era da Portuguesa Santista e fazia testes no Santos, empatou o jogo. Havia entrado do lugar de Pagão, um dos craques do time. Em seguida, Pelé marcou de cabeça, após cruzamento de Ivan, o quarto gol dos 1.281 de sua carreira. Foi a primeira aparição em solo serrano.
A segunda visita a Caxias do Sul foi décadas depois, quando já tinha aposentado as chuteiras, mas ainda prestava serviços ao esporte brasileiro. O então ministro extraordinário dos Esportes, Edson Arantes do Nascimento, veio a cidade em 17 de julho de 1995. O ex-jogador esteve na Casa da Cultura e nos estádios Centenário e Alfredo Jaconi. Após uma apresentação no gramado, com jogadores e dirigentes, o Rei do Futebol se dirigiu à nova academia do clube, que seria inaugurada oficialmente por ele.
CURIOSIDADES DO JACONI
:: Maior público:
27.740 torcedores em Juventude 0x1 Grêmio no dia 27/11/2002
:: Primeiro gol:
Ronaldo, em Juventude 0x3 Palmeiras no dia 2/4/1975
:: A grande reforma do Estádio Alfredo Jaconi durou três anos, entre 1972 e 1975.
:: Cerca de 25 mil torcedores acompanharam a inauguração do estádio após a reforma em um Juventude 0 a 0 Flamengo-RJ em 23 de março de 1975.
:: O primeiro Ca-Ju no atual Jaconi foi em 28 de março de 1976 e terminou em 0 a 0 pelo Gauchão. Felipão jogava pelo Caxias.
:: Em 17 de março de 1994, o Juventude fez um amistoso contra o Parma, da Itália, ambos patrocinados pela Parmalat. O Juventude venceu por 3 a 1, com gols de Paulo Sérgio (dois) e Dorival Júnior. Crippa marcou para os italianos.
:: No dia 17 de agosto de 2005, o Jaconi recebeu a sua segunda competição internacional. O Verdão entrou em campo pela Copa Sul-Americana, quando o Juventude perdeu para o Cruzeiro por 3 a 1.
"FORTALEZA ALVIVERDE"
50 anos do Estádio Alfredo Jaconi

Desejo que o Juventude continue esse clube de conquistas, que sobe, que é corajoso, que é guerreiro, que é lutador e que é vencedor
LAURO
Ex-jogador do Juventude e com mais partidas pelo Verdão.
:: 1º Episódio
Jogador, treinador e presidente: A vida e a despedida precoce do ícone do Juventude.
:: 2º Episódio
50 anos da grande reforma: Da Quinta dos Pinheiros ao Alfredo Jaconi, a fortaleza do Juventude.