
A casa do Juventude carrega o nome de um personagem icônico de Caxias do Sul. Um exemplo de paixão entre um torcedor e o seu clube.
Alfredo Jaconi virou nome de estádio, que em 2025 completa 50 anos desde a sua reinauguração, com a grande reforma de 1975. Assim, o Pioneiro e GZH realizam uma série de três reportagens sobre este momento único da história alviverde.
Antes de ter seu nome eternizado no Esporte Clube Juventude, Alfredinho mal sabia que se tornaria um ícone e teria seu nome falado por todos quando o Juventude jogasse em Caxias do Sul.
Nascido no dia 27 de fevereiro de 1910, Alfredo Jaconi era filho de Hilário e Cesira Jaconi. O Juventude fez parte da vida do ex-dirigente logo cedo, como detalha o escritor Francisco Michielin no livro "Juventude: Paixão e Glória", lançado em 2016:
— Não tinha ainda 15 anos completos ao vestir a camisa alviverde pela primeira vez na condição de “mirim”. Dos infantis, passou a ser juvenil, depois aspirante e, por fim, consumando os seus sonhos, meia esquerda titular, quebrando o galho, também, na ponta direita. Mas, praticamente jogou em todas as posições, pois sempre se oferecia para atuar onde houvesse uma brecha — diz a obra.

Jogador, treinador, auxiliar, massagista, diretor, conselheiro e até presidente do clube. Alfredinho fez de tudo pelo Juventude, como explica a historiadora do memorial do clube, Amanda Dal Cero.
— O Alfredinho viveu o futebol de forma integral. Ele passa desde a época do jogador, auxiliar técnico, até as questões administrativas do futebol. Temos, inclusive, as atas que ele foi conselheiro e presidente. Então, a gente tem uma forte participação política dele nesses momentos. O Juventude, ele vai se afirmando, principalmente nos anos 1950, como um grande time da Serra Gaúcha frente à Federação Gaúcha de Futebol. Ele também vai participando dessas discussões — detalhou Amanda.
Alfredinho não era muito alto quando jovem, mas seu cabelo sempre estava bem ajeitado. Volumoso e sempre penteado para trás, ele era presença garantida nas fotos do time. Ali já carregava o DNA alviverde. A carreira de atleta se encerrou em 1938, ganhando com o clube nove títulos do Citadino. No ano de sua retirada dos campos, teve seu retrato incluído na galeria dos atletas laureados do Ju.
— Depois da carreira acabar, não dando certo como jogador, ele volta e, como ele era uma pessoa completamente apaixonada pelo esporte e pelo Juventude, vai encontrando outras maneiras de estar próximo. Ele cuidou do financeiro do clube por muitos anos — contou a historiadora.
PAIXÃO ALÉM DOS GRAMADOS

Com uma vida dedicada ao Juventude, Alfredinho ainda achava tempo, durante suas 24 horas, para outras atividades. Ele foi representante comercial do Inseticida Rajá. Após deixar de lado a vida de atleta, chegou ao posto máximo do clube. Alfredo Jaconi virou presidente em 1946. Na trajetória como dirigente, trabalhou com Lauro de Carvalho, que também foi presidente do clube na década de 1950. Filho de Lauro, Newton Fernando de Carvalho sempre ouviu seu pai falar de Alfredinho.
— Era um entusiasta, uma pessoa muito motivadora, muito juventudista, era um agregador, um cara que tinha sido inclusive jogador. E era uma pessoa comum, uma pessoa do povo, da torcida, até porque o clube começou assim, com os jovens se reunindo, e vamos lá — lembrou Newton de Carvalho.
A paixão pelo Alviverde da Serra era tanta que Alfredinho podia ter "Juventude" no seu sobrenome. A historiadora Amanda Dal Cero lembra de uma passagem curiosa do então "cartola".
— Nos anos 1940, ele teria descido a Porto Alegre, porque o Flamengo, o nosso rival da época, estava de olho num certo jogador e esse jogador ia desembarcar na Capital. O dirigente do Flamengo tinha mandado alguém buscar esse atleta. O Alfredinho acaba sabendo da situação e ele pega a sua moto, que era icônica na cidade, e vai para lá de madrugada, para chegar antes do representante do Flamengo. Tudo pra conversar com esse jogador, apresentar uma proposta e ele traz esse jogador pro Juventude — conta Amanda.
UMA CIDADE EM LUTO

Alfredo Jaconi só não fez mais pelo Juventude porque no dia 6 de dezembro de 1952 ele deixou o plano material. Com apenas 42 anos, o histórico torcedor, cartola e presidente foi encontrado morto nas dependências da Cervejaria Leonardelli.
Ele foi ao local encomendar barris de chope para a grande Parada da Vitória, com a qual o clube campeão da cidade festejaria os feitos da temporada de 1952. Contudo, no dia seguinte, o Jornal Diário do Nordeste noticiou a sua morte e buscava encontrar respostas para a partida precoce do lendário alviverde.
— Alfredinho, há vários dias, demonstrava profunda fadiga. Tomado de uma incontrolável sonolência, chegava a adormecer nas mesas dos cafés, na roda dos amigos que com ele palestravam. Tendo que atender à sua progenitora, dona Cesira, gravemente enferma, e aos compromissos atinentes às funções que desempenhava — entre elas, o de distribuidor do Inseticida Rajá —, passava noites inteiras sem dormir. Acredita-se que o sono o tenha surpreendido naqueles momentos de espera, e ao fraquejar o corpo, viu-se inclinado sobre a correia, que o colheu causando-lhe a trágica morte — descreveu o jornal na época.

Na casa de sua mãe, na Rua Os Dezoito do Forte, desportistas choravam a sua trágica morte. A cidade coberta em luto não acreditava que o torcedor deixaria de frequentar as ruas caxienses com a sua popular moto. As atividades esportivas locais foram suspensas e o comércio fechou as portas.
Na cervejaria, ele acaba lá dentro sofrendo um mal súbito
AMANDA DAL CERO
Historiadora do memorial do Juventude
— Ele morreu muito jovem. Foi uma morte completamente atípica. Ele estava na terceira gestão, como presidente, em 1952, quando o Juventude ganhou o título citadino. Na cervejaria, ele acaba, lá dentro, sofrendo um mal súbito. O legista da época não consegue identificar se foi algo do coração, o que houve inicialmente, mas ele cai entre o maquinário da cervejaria e acaba esmagado — detalha Amanda.
No dia 13 de dezembro de 1952, o Jornal Pioneiro escreve sobre a popularidade de Alfredinho com as homenagens prestadas pela sua passagem.
— Sua popularidade e seu prestígio foram comprovados pela grande massa que foi prestar-lhe sua última homenagem, quando de seu sepultamento, domingo último, onde vimos elementos de todas as classes sociais e desportivas acompanharem seu corpo até a última morada. O corpo de Alfredinho jaz inerte. Sua memória, todavia, perpetuar-se-á para sempre como legítimo exemplo àqueles que desejam ser úteis ao nosso desporto. Ao lado de todos os lauréis do glorioso clube da Quinta dos Pinheiros, contemplaremos com saudade um nome: Alfredo Jaconi — descreve a matéria da época.
NO SEGUNDO EPISÓDIO...
A série "A Fortaleza Alviverde - 50 anos do Estádio Alfredo Jaconi" vamos falar da primeira casa do Juventude, a Quinta dos Pinheiros, quando o estádio mudou de nome e da grande reforma realizada no Alfredo Jaconi em 1975.