Se para os grandes clubes do futebol brasileiro e mundial a situação financeira preocupa, imagina agremiações sem receita milionárias e sem ajuda financeiras das instituições que coordenam o futebol. Com a retomada da Divisão de Acesso marcada para o mês de agosto, os clubes buscam alternativas para minimizar os impactos negativos nas suas respectivas finanças.
O Veranópolis, um dos representantes da Serra Gaúcha, irá propor a suspensão dos contratos das 33 carteiras assinadas do departamento de futebol, que inclui atletas e profissionais da comissão técnica. Durante dois meses, o clube pretende dar uma ajuda de custo a esses profissionais. Posteriormente, eles retornam para disputa do campeonato.
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A suspensão de até 60 dias dos contratos garante dois meses de emprego ao atleta. Essa ideia está vinculada à linha de crédito emergencial de R$ 40 bilhões que o governo federal disponibiliza para que empresas financiem o pagamento dos salários dos funcionários.
— Nós vamos aproveitar os dois meses que o governo dá pelo decreto. Clube de futebol é empresa, pois tem CNPJ e recolhe seus encargos. Fomos enquadrados com anuência do sindicato. São quatro meses: abril, maio, junho e julho, já que o campeonato volta em agosto. Nesta programação ainda é necessário acertar dois meses de uma ajuda de custo aos jogadores. Já pagamos o mês de março, abril e maio com o valor que o governo repassa, e junho e julho vamos acertar com os jogadores — disse o presidente Gilberto Generosi.
Após o retorno dos atletas para a Divisão de Acesso, os contratos serão refeitos. Atualmente, o vencimento é 15 de junho. O acerto entre as partes é intermediado e homologado pelo Sindicato dos Atletas.
— Tem clubes que estão optando pela rescisão, porém nós optamos pela suspensão. Suspendemos por dois meses e meio, e depois prorrogamos em agosto para fazer a competição — afirmou o presidente.
Futuro da Divisão de Acesso
O retorno da Divisão de Acesso está previsto para o mês de agosto, caso a pandemia do coronavírus seja controlada. Dentro desse cenário, a grande questão é: como os clubes menores irão sobreviver? Uma pergunta sem resposta, por enquanto. Neste cenário de incertezas, a participação de alguns clubes pode até ser revista.
— Eu acho que vai ter muita desistência. Pelo que a gente conversa entre os presidentes, tem clube pensando mais em sair do campeonato do que continuar. A situação financeira é muito grave. Ela já é grave para o Veranópolis que trabalha com R$ 300 mil da FGF, dinheiro da queda na primeira divisão. Se está difícil para nós, imagina para quem não tem esse valor. Se a Federação garantisse os clubes na Divisão de Acesso do ano que vem, sem rebaixamento, cinco ou seis desistiriam, mas isso não é possível — revelou Generosi, sem citar os nomes de possíveis desistentes.
O cenário se explica também pela falta de auxílio da CBF aos clubes sem divisão nacional. Somente equipes das séries B, C e D receberão algum tipo de ajuda. O Veranópolis tem uma folha mensal entre futebol e funcionários de R$ 120 mil mensais. Se contabilizarmos outras questões que envolvem um clube, como alimentação, hospedagem e transporte, o valor aumenta.
— Não é fácil fazer futebol no interior. Várias sugestões foram passadas para a FGF e a CBF, mas tudo envolve valores. A Federação Gaúcha não tem condições de passar somente os R$ 60 mil, e a CBF deixou bem claro que os clubes sem série não terão ajuda. Eu estou dentro de casa desde 17 de março e tenho trabalhado mais para o Veranópolis do que para as minhas empresas — desabafou o presidente, que é empresário e corretor de seguros.