O início do projeto Pernas Solidárias em Caxias do Sul parte de dois momentos da vida de Jhone Albano. Cabelereiro há 17 anos, ele sempre esteve envolvido com ações sociais. Quando ministrava aulas sobre a sua profissão, acabava levando os alunos fazerem cortes em entidades que prestavam auxílios às pessoas em vulnerabilidade. Nesse meio tempo, ele conheceu a corrida como uma válvula de escape do dia a dia e o esporte tomou conta da sua vida.
Dos treinos por hobby para as provas foi um caminho natural. Como a grande maioria, Albano participou de 5 km, 10 km, 21 km e a mais importante: uma maratona. Só que nos últimos anos, as portas para as ações sociais como cabelereiro foram ficando mais difíceis de serem acessadas. E aí veio o estalo: juntar o esporte e a solidariedade.
Leia mais
Projeto compartilha experiências e alegria através da corrida
Projeto leva ensinamentos do taekwondo para escola de Gramado
— Eu já tinha visto em outras regiões, e em Caxias não havia nada nesse tipo de projeto. A gente acaba treinando, praticando e chega num ponto em que se torna só competição ou acaba perdendo o brilho da corrida. Eu busquei aliar esporte com esse ato solidário — conta Albano.
A partir da ideia e da aproximação com os idealizadores de Joinville, ele teve a noção do que seria necessário. Aos poucos, foi montando os triciclos e buscando parceiros para viabilizar essa estrutura – cada carrinho custa em média R$ 1,7 mil, e a maioria é doado. Faltavam as crianças, e aí o salão ajudou novamente. Clientes que são donos de uma clínica de fisioterapia foram acionados.
— Entramos em contato com a clínica e eles indicaram umas crianças que teriam como participar. Temos dificuldades, porque não é possível colocar todos PCDs nas corridas. Eles indicaram as crianças e depois o projeto se tornou conhecido e as pessoas vieram nos buscar — lembra Albano.
Foi assim que Manoela Schimtt encontrou Albano. Através das redes sociais, descobriu que existia o Pernas Solidárias em Caxias. Logo, estava nos treinos e participando das provas ao lado da filha Júlia.
— Sempre gostei de fazer esportes e nunca era possível fazer com ela, pelas limitações dela. Quando ia fazer alguma coisa desse tipo, tinha que deixar ela com os avós ou na escola. Nunca conseguimos fazer algo juntas nesses momentos. A partir do projeto, estamos realizando — destaca Manoela, que complementa sobre o ponto alto dessa interação:
— A rotina de familiares de pessoas com deficiências são estressantes e o esporte ajuda a liberar endorfina, anima, traz um pouco de alívio e é bom fazer isso junto com eles. Além da inclusão, né?
SATISFAÇÃO GARANTIDA
Para que as crianças possam sentir o prazer e a pulsação de uma prova de rua são necessários corredores para empurrar os triciclos, afinal nem todos os pais praticam o esporte – e nem precisam. Existem voluntários, como Miriam Constante e o namorado Anderson Lima, que fazem esse papel.
Algo que trouxe um novo significado do esporte, segundo Miriam:
— Foi uma experiência muito bacana. Eu já participei de provas atrás de tempo, resultados, treinando e buscando a melhor performance. Mas esse projeto me trouxe um significado diferente. Só o fato de concluir é uma vitória nossa e fizemos por eles. Quando ela (Mariana) me disse que tínhamos batido o recorde de 5km foi o meu melhor dia.
O casal faz a dupla com Mariana e uma amizade foi criada, além das provas e dos treinos semanais.
— O mais marcante é esse entusiasmo dela, que está sempre dizendo “vai, vai, vai”. Quando chega o morro, onde tu pensas em segurar, eles te motivam mais. A alegria deles é saber que a gente faz a diferença naquele momento para eles se realizarem. Esse é o melhor resultado — ressalta Miriam.
Após a participação no projeto, a motivação da dupla também mudou. Os treinos de corrida voltaram para a rotina, e até provas mais longas estão no foco de Miriam e Anderson, que irão correr a Ultra Caminhos de Caravaggio, em quarteto, no ano que vem. Tudo foi recolocado no planejamento após essa parceria forte com Mariana.
No fim, todos saem ganhando.