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Um fruto mais doce e que brotou em maior quantidade em relação à safra passada está em fase final de colheita na Serra gaúcha. A região abriga os três principais municípios produtores de maçãs do Estado, o segundo maior do país.
Bom Jesus, Vacaria e Campestre da Serra contribuem para que o Rio Grande do Sul alcance a projeção da Associação Gaúcha de Produtores de Maçã, que estimou uma colheita de 400 mil toneladas em 2025. A alta é 10% superior em relação ao ano passado.
Com ciclo que se inicia em outubro, a maçã colhida neste ano, segundo o diretor de Produção e Fruticultura da Rasip, de Vacaria, Celso Zancan, a fruta surgiu nos pomares com bom visual, essencial para a venda, e com sabor equilibrado entre o açúcar e a acidez:
— Não é uma supersafra, é uma safra mediana, mas com excelente qualidade. Tivemos condições boas para que ganhasse cor no final de dezembro e início de janeiro. Tem chovido regularmente, sem excesso e nem falta de chuva, e assim a maçã ganha em grau de açúcar. O sabor está espetacular.
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Para chegar ao nível de qualidade esperado é preciso contar com o clima. De acordo com engenheiro agrônomo da Emater Mauro Tessari, estações climáticas bem definidas são determinantes para que uma boa maçã chegue ao consumidor:
— Ela precisa, desde lá no inverno, de muitas horas de frio. A gente precisa também de boas condições durante a polinização ao longo da primavera e dias de sol, com luminosidade e temperatura adequada.
Condições que possibilitaram a recuperação dos pomares na propriedade da família Andreazza, em Santa Lúcia do Piaí, no interior de Caxias. Em 2024, por conta do excesso de chuva, a variedade gala teve perda estimada de 34%, de acordo com a engenheira agrônoma Cristiane Andreazza. Desta vez, com boa qualidade e produção, a preocupação é de colher as cerca de quatro toneladas produzidas no tempo correto:
— A nossa gala representa 70% do que a gente colhe, então foi bem impactante na safra passada. A variedade gala acelera muito a colheita porque o tempo é curto entre estar pronta e estar passada do ponto. Temos uma janela de 30 a 40 dias.
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Destino nacional e internacional
A Associação Brasileira de Produtores de Maçã estima que o país tenha hoje 32 mil hectares plantados da fruta. Com potencial de produzir até 1,3 milhão de toneladas, a maçã brasileira chega à mesa do consumidor nacional e internacional tanto in natura como em produtos como geleias e sucos.
Para isso é preciso selecioná-las. As com visual pouco atrativo, cerca de 20%, vão para indústria, o restante embarca em caminhões que percorrem o país e navios que fazem a fruta chegar em 15 países. Em 2025, a reserva de 20% para exportação da fruta gaúcha chegará também aos Emirados Árabes.
Na Rasip, de acordo com Zancan, cerca de 60 caminhões chegam e partem diariamente do centro de triagem e empacotamento. Até o fim da colheita, em março, 55 mil toneladas serão selecionadas.
— Vai para todo o Brasil, um pouco mais concentrado entre Sul e Sudeste, mas chega ao Nordeste também. Fora do país, a Colômbia, que não produz maçãs, é um mercado importante. Na Europa, vendemos muito para Irlanda, Inglaterra e Portugal, mas nosso principal consumidor ainda é a Índia. Os contêineres saem aqui da empresa refrigerados até o Porto de Itajaí (SC) e depois seguem refrigerados até o país que adquiriu. Demora cerca de 50 dias para chegar na Índia, por exemplo. Nós competimos de igual para igual com todos os produtores do mundo — diz Zancan.
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Pomares em recuperação
Com 1,9 mil hectares de área plantada, Caxias do Sul estima colher até 60 mil toneladas de maçã. Para o secretário municipal de Agricultura, Rudimar Menegotto, ainda não se trata de uma safra cheia, mas que em termos de qualidade surpreendeu produtores que somam prejuízos de temporadas anteriores:
— Temos tido quebras de safra recorrentes. A partir de 2021 tivemos estiagem severa e depois disso um período chuvoso na floração. Esse ano melhorou, mas ainda não é uma safra normal. Em qualidade, talvez seja uma das melhores dos últimos anos.
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Qualidade que alegra a família Mazzochi, em São Braz, interior de Caxias. A Belli Fruty perdeu no ano passado toda a produção por conta do granizo.
— Tudo o que colhemos na última safra foi para a indústria, que paga hoje R$ 1 o quilo. Aquela que chamamos de graúda paga até R$ 6,50 o quilo. Recuperamos um pouco o prejuízo, mas depois que a planta sofre com granizo, o gasto passa a ser maior pelo dano, então é um cuidado muito maior para seguir produzindo no próximo ano — explica.
Com pomares em São Francisco de Paula e Caxias do Sul, que somam uma área total de 50 hectares, a expectativa da família é colher em 2025 cerca de 500 toneladas, vendidas para Santa Catarina e Paraná.
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Vizinho da família Mazzochi, Jorge Palandi renovou, em 2016, todas as macieiras, que neste ano tiveram perda de 50% por conta do granizo. Ao final da colheita, ainda em andamento, serão 5 mil toneladas da fruta nos cerca de 300 hectares plantados em Jaquirana e São Francisco de Paula:
— Quando meu pai começou, em 1978, tinha dois ou três produtores de maçã que plantavam em Caxias, mas a temperatura subiu, as noites não são mais tão frias e isso não dá cor ao fruto. O clima dos Campos de Cima da Serra é melhor e hoje abriga quase 90% de toda nossa produção.
Mais 400 mil litros de suco integral
A maçã vendida para indústria figura nas prateleiras dos supermercados e está na composição sucos mistos, geleias e vinagres. No entanto, um produto integral da fruta, lançado em 2024, tem ganhado protagonismo.
Importante fabricante de sucos de uva integrais, a Aurora lançou o suco de maçã em novembro e, de acordo com o diretor de Marketing e Vendas da cooperativa de Bento Gonçalves, Rodrigo Valerio, 445 mil litros já foram comercializados:
— Em janeiro foram 202 mil litros, o que mostra o potencial. É um produto que está sendo bem aceito. A matéria-prima é muito próxima e o suco de maçã é uniforme como o de uva, não forma polpa no fundo da embalagem, como o de manga ou laranja, por exemplo.