Pesquisas mostram que o interesse do brasileiro em investir vem crescendo. Em Caxias do Sul, não é diferente. Conforme o Raio X do Investidor, publicado neste ano pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), quase 60 milhões de brasileiros investem em algum dos produtos do mercado financeiro. Mas, para quem quer entrar nesse universo, ainda mais no novo ano, o ideal é tomar alguns cuidados e planejar-se, até mesmo para não cair em aventuras.
A convite da reportagem, o especialista em produtos e alocação da Fami Capital, Eduardo Santarossa, 39 anos, explica que tudo começa com o perfil de cada investidor. A questão não é sobre os tipos de investimentos, mas sim qual é a realidade de cada pessoa e quais os objetivos que ela quer alcançar com o mercado financeiro.
— Antes de qualquer coisa, é importante que se tenha o que chamamos de planejamento financeiro. Bem feito, ele vai resultar num perfil do investidor e esse perfil do investidor vai resultar num mapa, chamado de mapa de alocação. Ele é um mapa de estratégia — descreve o especialista.
O mapa indicará quais ativos o investidor deve adquirir (como títulos ou ações), as restrições e os objetivos, que podem ser a curto, médio e longo prazos. Os objetivos, como lembra Santarossa, referem-se aos desejos de vida do investidor.
— O mercado financeiro nos oferece alternativas realmente muito amplas, e muito da dificuldade do investidor de selecionar é ele entender o seu perfil. Pode parecer alguma coisa muito simples, mas não é. Por isso que o investidor recorre também à ajuda profissional — comenta.
Milhares de alternativas
A partir do perfil, Santarossa comenta que as estratégias podem ser colocadas em prática. Alguns dos ativos são mais comentados que outros publicamente, mas o especialista lembra que existem "milhares" de formas para investir:
— Colocar na prática é, de fato, onde vamos investir. E aí vêm os ativos conservadores ou arrojados. Existe uma infinidade, desde os ativos bancários, títulos do governo, títulos corporativos, fundos de investimento, entre outros. Dentro da área de fundos de investimento existem, e eu não estou brincando, milhares de alternativas dentro disso.
De uma forma muito geral e simplista, o investidor está, na prática, ou emprestando dinheiro a alguém ou tornando-se sócio de algum negócio. Conforme o investimento, ele pode até ser feito fora do país. Até por isso é recomendado que quem quer entrar neste mundo busque auxílio profissional, inclusive para tentar entender a melhor forma de alocar os recursos. Ou seja, a melhor combinação de investimentos para alcançar objetivos.
— O investidor precisa entender que investimento é esse, onde ele está entrando, qual que é o perfil desse investimento e entender que no mercado nada é ausente, não existe ausência de risco. Geralmente, os investimentos sempre têm aquilo que chamamos de análise de risco e retorno. Então, para ter um retorno maior, preciso entender esse risco. Geralmente, essa é a questão — alerta o especialista.
No Tesouro Direto, da União, não há valor mínimo para começar a investir. O especialista lembra também que há opções que giram em torno de R$ 100. Mas, vale lembrar, não existe mágica neste universo.
— O retorno é proporcional àquilo que você está investindo. Ele tem a ver com aquilo que você está investindo e não o volume. O retorno absoluto, o total que você vai receber vai ser em relação ao patrimônio inicial que você investiu. Investir R$ 100 e ganhar 10% de R$ 100 é uma coisa, investir R$ 1 milhão, 10% de R$ 1 milhão é outra coisa. É outra coisa, mas é proporcional ao valor investido. Mas o retorno também tem a ver na classe de ativos e na diversificação, na combinação que você fez dentro da sua carteira de investimentos — explica.
E os juros?
Pode-se dizer que os juros regulam o mercado de investimentos, atuando de forma direta ou indireta nos ativos. Neste momento, a taxa básica de juros da economia brasileira, a Selic, está em alta. Em dezembro, por exemplo, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central a subiu para 12,25%. Ela serve de base para todos os juros praticados no país.
Como explica Santarossa, esse cenário pode deixar ativos considerados mais conservadores, como o Título do Tesouro Direto e outros atrelados ao juro real, um pouco mais atrativos. Mesmo assim, como observa o especialista, a regra básica para decidir a alocação dos recursos segue a mesma: voltar ao perfil e aos objetivos. Inclusive, o mercado está em movimento e outras opções podem se mostrar mais atraentes para uma estratégia de investimento.
— É muito raro, por exemplo, a mesma classe de ativos ser dois anos seguidos a melhor classe de retornos. Por exemplo, tem anos que o dólar é o melhor retorno, tem anos que é a Bolsa, tem anos que é a Bolsa Internacional, tem anos que são os ativos atrelados à inflação, tem anos que é o prefixado, ou CDI, e geralmente nenhum ano repete o outro — exemplifica.
Entenda alguns termos
A reportagem selecionou e explica a seguir alguns dos termos que mais aparecem em conversas sobre o mercado de investimentos. Confira:
- Liquidez: é a capacidade de um ativo (o que está sendo investido) em ser convertido em dinheiro sem perder valor. Um exemplo de ativo que tem boa liquidez são os imóveis.
- Rentabilidade: é o ganho, geralmente mostrado com uma porcentagem, que o investidor teve a partir do capital aplicado.
- Renda Fixa: é o investimento em que a taxa de ganhos é estipulada na aplicação. O investidor já tem nesse momento a definição de como será a valorização, seja por índice de juros ou outra referência. Quando for por taxa básica de juros, a Selic, ou inflação, o cálculo pode variar. Se for uma renda prefixada, o lucro será conhecido no momento da aplicação, desde que o título seja mantido pelo prazo estabelecido.
- Selic: é a taxa básica de juros da economia brasileira. Ela serve como referência para os demais juros praticados no mercado nacional. É administrada pelo Banco Central.
- Renda Variável: é o investimento que não tem uma taxa de referência. Um exemplo claro são as ações das empresas na Bolsa de Valores. Elas dependem da procura pelo ativo.
- Tesouro Direto: é uma forma de empréstimo ao governo federal a partir da compra de títulos. Essa compra garante o retorno do empréstimo em determinado prazo com o acréscimo de juros. É um tipo de investimento de renda fixa.
- CDB: é o Certificado de Depósito Bancário. Funciona da mesma forma que o Tesouro Direto. Mas, no lugar de fazer um empréstimo ao governo, o empréstimo é ao banco em que o título foi adquirido.
- Debêntures: são os títulos de dívidas de médio a longo prazo emitidos por empresas privadas. Da mesma forma que o CDB e Tesouro Direto, é uma forma das empresas aumentarem arrecadação. As debêntures podem ser as simples, que são aquelas não conversíveis em ações da companhia que as emite, ou as conversíveis, que podem ser convertidas.
- LCI: são as Letras de Crédito Imobiliário. São títulos de renda fixa que visam captar recursos para o mercado imobiliário.
- LCA: são as Letras de Crédito do Agronegócio. São títulos de renda fixa que visam captar recursos para o agronegócio.
- Taxa do CDI: O CDI é o Certificado de Depósito Interbancário (CDI), um título emitido para transferências apenas entre bancos. A taxa do CDI é a média dos juros utilizados pelos bancos nessas negociações diárias. Nos investimentos do mercado financeiro, o índice é usado para definir a rentabilidade de ativos de renda fixa.