Foi revelado nesta segunda-feira (10), no Itaú Cultural em São Paulo, o PIB da Economia da Cultura e Indústrias Criativas (Ecic). É um índice inédito que calcula quanta riqueza é gerada por setores culturais e criativos, que englobam áreas como artes, publicidade, arquitetura, design, culinária, tecnologia. O Ecic, que abrange o ano de 2020 por conta da base de dados da pesquisa, equivale a 3,11% de todo o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil, ou seja, os segmentos movimentaram juntos R$ 230 bilhões na economia brasileira. Somente a região Sul gerou 20% do Ecic, algo em torno de R$ 46 bilhões.
A pesquisa levanta ainda o número dos trabalhadores deste setor. Nesse caso, os dados são de 2022 e apontam 7,4 milhões de profissionais, que representam 7% de total de trabalhadores da economia brasileira — No Rio Grande do Sul, são 410 mil de trabalhadores criativos. Ao mesmo tempo, são mais de 130 mil empresas atuando no setor no país - no RS, são cerca de nove mil empresas.
O levantamento deve servir como uma base de informações para o fomento de políticas públicas entre governos, universidades, organizações não governamentais (ONGs) e sociedade como um todo.
— O que queremos chamar atenção é a oportunidade de crescimento que tem os Estados e o quanto isso é gerador de emprego e renda. Quando aqui oferecemos essa informação de que no país é 3,11%, mas poderia ser ainda maior — explicou o presidente da Fundação Itaú, Eduardo Saron, em coletiva para a imprensa na capital paulista.
A oportunidade, inclusive, entrará em pauta na terça-feira (10), no próprio Itaú Cultural, quando o grupo que coordenou a pesquisa se reúne com 20 secretários estaduais de Cultura para apresentar os dados. O Rio Grande do Sul será representado pela secretária Beatriz Araújo, que também é vice-presidente do Fórum Nacional de Secretários e Dirigentes Estaduais de Cultura.
— O que eu posso dizer é que os secretários de cultura de todos os estados presentes querem continuar contribuindo. Vamos entender de que forma podemos estar no nosso dia a dia trabalhando, para termos sempre atualizações do PIB da cultura e economia criativa, a fim de que tenhamos condições de que nossas políticas públicas sejam assertivas — destaca a secretária estadual da cultura.
A pesquisa foi liderada pelo gaúcho Leandro Valiati, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e da Universidade de Manchester. O levantamento teve duração de dois anos, utilizando dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O estudo contou ainda com especialistas e pesquisadores do setor.
— Uma ação como essa reverbera nesta construção de um ecossistema (do setor) para se pensar em políticas públicas baseadas em evidências. Essas políticas públicas baseadas em evidências são que garantem estabilidade da política pública e que garantem permanência, ou que garantem, por exemplo, que uma política pública de cultura não desapareça de uma hora para outra por conta de uma visão diferente sobre a importância do setor — observa Valiati.
Como algumas bases de dados não foram atualizadas, os índices de 2021 e 2022 ainda estão sendo levantados. Na pesquisa, Valiati e Saron chamaram atenção que o PIB da economia cultural e criativa teve um crescimento maior do que o produto interno geral do país entre 2012 e 2020 — um aumento de 78% contra 55%. Além disso, o índice de 2020 supera o do próprio setor automotivo, que no mesmo período correspondeu a 2,1% do PIB total do Brasil.
Em nível global, a participação destes setores na economia é maior que em países como África do Sul (2,9%), Rússia (2,4%) e México (2,9%).
Na pesquisa, são considerados como parte dos setores culturais e criativos: moda, atividades artesanais, indústria editorial, cinema, rádio e TV, música, desenvolvimento de software e jogos digitais, serviços de tecnologia da informação dedicados ao campo criativo, arquitetura, publicidade e serviços empresariais, design, artes cênicas, artes visuais, museus e patrimônio.
Ecic no Estado é 1,77%
Em relação ao PIB de 2020 do Rio Grande do Sul, o índice da Economia da Cultura e Indústrias Criativas (Ecic) é de 1,77%. Ou seja, representa cerca de R$ 8,3 bilhões dos R$ 473 bilhões referentes ao produto interno bruto daquele ano no Estado.
Acréscimo de empregos dos setores criativos
O levantamento reúne três grupos de trabalhadores, sejam eles especializados (aqueles que trabalham nestas áreas), de apoio (que atuam na área, mas não são considerados trabalhadores criativos), e os incorporados (criativos que trabalham em outros setores da economia, como, por exemplo, um designer que atua no segmento moveleiro).
Entre 2020 e 2022, o número de trabalhadores criativos no Brasil teve variação positiva de 22%, passando de 6,6 milhões para 7,4 milhões. A participação do Rio Grande do Sul subiu de 4% para 5,3% (ou de 264 mil para cerca de 410 mil). O Estado é o sexto com mais trabalhadores deste tipo - São Paulo lidera, com mais de 32% do grupo (cerca de 2,3 milhões).
O que esses estudos podem gerar
A ideia é que os dados levem os governos estaduais a um trabalho conjunto ao redor do setor cultural e criativo. Eduardo Saron dá o exemplo da educação, que pode ser um caminho para a promoção de cursos técnicos que formem profissionais nestas áreas:
— É uma tema da educação e é um tema do trabalho. Assim como perceber essa capacidade de desenvolvimento econômico. Quando pensamos em uma agenda cultural para o município ou Estado, temos que pensar do aspecto também de geração para o município e para o estado.
Já Leandro Valiati chama atenção para a regulação, no sentido de apontar onde pode ser melhor investido o recurso público:
— Não só para a cultura, mas na relação entre cultura, tecnologia e novo mundo do trabalho. Isso é um tema fundamental para preparar a economia brasileira como um todo.
Após a coletiva, o PIB da Economia da Cultura e Indústrias Criativas de 2023 foi lançado oficialmente com as presenças de Marília Marton, secretária estadual de Cultura e Economia Criativa de São Paulo, Aline Torres, secretária municipal de Cultural de São Paulo, Fabrício Noronha Fernandes, presidente do Fórum Nacional dos Secretários e Dirigentes Estaduais de Cultura e secretário estadual de Cultura do Espírito Santo, Marcelo Queiroz, deputado federal e presidente da Comissão de Cultura, e Márcio Tavares, ministro interino da Cultura.
* O jornalista Bruno Tomé viajou a convite do Itaú Cultural