O dólar, que disparou durante a pandemia, vem caindo nas últimas semanas. Nesta quarta-feira (16), fechou cotado a R$ 5,12 o menor valor desde o dia 29 julho do ano passado (quando bateu em R$ 5,07). O movimento é resultado da entrada de investidores estrangeiros atraídos pelo juro alto – a taxa Selic está em 10,75% e há previsão de chegar neste ano a 12,25%. Visto de outra forma, o real já valorizou, somente neste ano, 8,02% ante o dólar.
Mas o recuo da moeda americana não significa fortes impactos no bolso do cidadão em um curto prazo. Economista e professor da Universidade de Caxias do Sul, Mosár Ness diz que as pessoas irão perceber nos próximos meses um "nível de aceleração de preços menor", ou seja, os preços podem subir, mas menos. Pode haver redução, inclusive, mas pequena.
— A gente acredita que a inflação deve entrar em rota de desaceleração nos próximos meses. Não significa desinflacionar. Vamos ter aumentos menores. Vamos ter preços estáveis e ligeiramente menores.
Economista da Messem Investimentos e professor da FSG, Gustavo Bertotti também acredita na perda de força da inflação, mas não na velocidade imaginada. Ela ainda continuará persistente. O especialista destaca pontos de exigem atenção, como o aumento do preço de commodities, principalmente ligado à energia, a tensão entre Rússia e Ucrânia e o processo de retirada de estímulos, principalmente nos Estados Unidos e na Europa.
— Tem algumas preocupações domésticas, como a ancoragem fiscal, com teto de gastos e discussões de PECs, somado ao risco político. Tem eleições, que, na minha opinião, vão fazer preço no mercado, e tem a inflação persistente — acrescenta.
Os motivos da queda
A queda do dólar é resultado da política monetária adotada pelo Banco Central nos últimos meses, que elevou a taxa Selic. Quando os juros sobem, a tendência é de entrada de investidores estrangeiros. A oferta de dólar no país, portanto, aumenta e, consequentemente a cotação cai.
— Muito da nossa inflação é impactado pelo dólar. O Brasil é dependente da importação de insumos para sua indústria e isso passa direto para o preço dos produtos. Esse dólar vem numa tendência de queda pela entrada de fluxo estrangeiro. Hoje na B3 (Bolsa de Valores), o último dado, que é do dia 14, mostra uma entrada de investidores no ano próximo a R$ 47 bilhões. Isso vem ajudando o dólar a perder força frente ao real — destaca Gustavo Bertotti.
Há espaço para a moeda norte americana cair ainda mais? Dificilmente, segundo avalia o economista Mosár Ness. Ele acredita que não deve baixar dos R$ 5,10 a não ser que tenhamos uma super safra de dólar. Mas, como o Banco Central americano pretende elevar a taxa de juros nos Estados Unidos, muitos investimentos devem ficar por lá mesmo.
O que muda na prática?
Ness usa dois exemplos para explicar a influência do dólar no dia a dia dos consumidores. O primeiro é o da carne, um vetor de exportação. Durante muito tempo, o coxão mole, carne utilizada para fazer bifes, custou entre R$ 25 e R$ 26 o quilo. Aumentou e chegou ao patamar de R$ 45 e estabilizou.
O segundo é do arroz que, no final de 2020, era vendido a quase R$ 40 (pacote de cinco quilos). Hoje, ele é vendido entre R$ 13 e R$ 15. O reajuste, conforme Ness, foi efeito do volume de exportações e da aceleração do dólar.
— No dia a dia, quando a gente tem um dólar estável, a tendência é ter um arrefecimento nos preços domésticos — destaca.