Em 15 dias começa a colheita de alho na Serra Gaúcha. Serão colhidas cerca de 15 mil toneladas nos 1,5 mil hectares plantados nos municípios da região, cerca de 20% a menos que o ano passado. São Marcos, entre os maiores produtores do Estado, deve colher 2,2 mil toneladas. No ano passado, a produção rendeu 12 toneladas por hectare. Este ano, serão 10 toneladas, segundo o o técnico em agropecuária da Emater Eri José Zanella. O motivo é o clima. Tempo seco no plantio (junho/julho) e excesso de chuva no último ciclo da produção (setembro/outubro).
Outro fator foi a ausência do inverno.
— O alho precisa de 800 horas de frio. Este ano tivemos somente 130 horas — explica o técnico.
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O resultado pode ser percebido nas lavouras. Muitos bulbos estão amarelados, o que significa a presença de fungos. A planta também teve o processo acelerado por causa do calor. Resultado: a colheita precisa ser antecipada para a primeira quinzena de novembro. Normalmente ela começa no início de dezembro. A qualidade também está um pouco abaixo da de 2016. O clima instável não proporcionou uma colheita equilibrada.
— Este ano, há lavouras com qualidade inferior — destaca o especialista da Emater.
Queda no preço
A safra deste ano também não deve render tanto quanto a passada, em que o quilo médio do alho foi comercializado pelos produtores a uma média de R$ 8. O agricultor Marcelino Zanella, de São Marcos, ainda comemora os bons resultados.
— Faturei R$ 100 mil por hectare. Este ano, se faturar R$ 70 mil já está bom — diz.
O preço depende principalmente da importação do produto da China. Hoje, as importações representam 60% do consumo brasileiro. A tendência é de queda no preço, segundo presidente da Associação Gaúcha dos Produtores de Alho (Agapa), Olir Schavenin.
— Vai depender de quanto alho vai ter no mercado no período da comercialização, no início do ano que vem — destaca.
Para o técnico da Emater Eri Zanella, a previsão é de que o valor corresponda ao número da classificação do produto. Ou seja, se a cabeça de alho for calibrada como 6,5, o preço a ser vendido será de R$ 6,5 o quilo. Nesta época, nos supermercados, o preço médio para os consumidores é de R$ 30.
Custo elevado
O custo para produzir a cultura está entre os mais altos na agricultura familiar. Isso porque a produção é totalmente manual. Ainda não há equipamentos eficientes para plantar e colher, por exemplo. Esta opção está sendo apresentada amanhã durante o Encontro Nacional dos Produtores de Alho, que acontece em Flores da Cunha.
— Mesmo assim, o equipamento ainda precisa ser aperfeiçoado. Acredito que em três anos, os produtores possam ter à disposição uma máquina que fará este trabalho com alta eficiência — diz Schiavenin.
Atualmente, o custo por hectare varia entre R$ 40 mil e R$ 50 mil. Na propriedade de Marcelino Zanella, seis pessoas trabalham nos quatro hectares plantados.
— É puxado. Muito puxado. O plantio é feito de semente em semente. A colheita e o processo de limpeza (toalete) também são manuais — revela o produtor.
Encontro em Flores da Cunha debate o mercado do alho
Hpje à tarde, cerca de 500 produtores de alho estarão participando do 30º Encontro Nacional dos Produtores de Alho, que vai acontecer no salão paroquial de Flores da Cunha. O eixos do debate estarão focados no momento atual do mercado, as novas tecnologias e o custo de produção. Vão ocorrer debates, análises e planejamento de ações para buscar iniciativas e fortalecimento da cadeia produtiva e tornar o alho cada vez mais valorizado na economia do país.
De acordo com Schiavenin, entre as reclamações dos produtores está as altas taxas de impostos cobradas hoje para produzir o produto.
— O custo dos impostos representa de R$ 3 a R$ 4 o quilo. Precisamos buscar alternativas para não sermos engolidos pelas importações. Apesar da qualidade do alho brasileiro ser muito superior.
Em Flores da Cunha, o alho é cultivado em aproximadamente 70 hectares, produzindo anualmente cerca de 700 toneladas. O Rio Grande do Sul é o quarto maior estado produtor com 11,9% da safra brasileira. A maior produção se concentra em Minas Gerais com 36,9%.