Apesar de todas as faixas etárias estarem sendo atingidas com o alto nível de desemprego, há uma que vem sofrendo mais: a dos idosos. Uma pesquisa recente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) aponta que a taxa de pessoas com mais de 59 anos sem ocupação no país passou de 2,05% no último trimestre de 2014 para 4,75% no segundo trimestre deste ano, o que corresponde a uma elevação de 132%.
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A tendência de desemprego crescente entre os idosos reflete também em Caxias do Sul. Embora não existam levantamentos específicos sobre o tema na agência FTGAS/Sine de Caxias, o coordenador de desenvolvimento social da unidade, Rudinei Batistel Pereira, destaca que subiu o número de pessoas mais velhas procurando emprego:
– As empresas que estão contratando optam, muitas vezes, por pessoas mais jovens em função da remuneração, que costuma ser mais baixa. Também por esse motivo (salários altos), alguns idosos estão sendo demitidos para dar lugar a alguém que ganha menos – percebe Pereira.
Mudanças no orçamento familiar também são apontadas pelo coordenador como causas dessa elevação de pessoas mais velhas buscando emprego. Como normalmente moram com outros integrantes da família, os idosos sentem que devem ajudar mais na renda da casa, já que alguém da residência pode ter sido afetado pela crise.
Em Caxias, o comércio e os serviços são os setores em que os idosos têm buscado mais uma oportunidade, até porque a indústria é o ramo que mais vem demitindo. Segundo Sadi Donazzolo, presidente do Sindicato do Comércio Varejista (Sindilojas), pessoas mais velhas são bem absorvidas em lojas e demais estabelecimentos que precisam de atendimento:
– Os idosos, em geral, sabem lidar com as pessoas, têm preparo para isso. O comércio caxiense "perde" bastante gente para a indústria em tempos mais prósperos. Agora, muita gente que, em algum momento da vida trabalhou em comércio e depois trocou de ramo, está voltando – relata Donazzolo.
Em agosto, o comércio e os serviços de Caxias geraram, juntos, 218 vagas, apontam números do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). Já a indústria abriu apenas um posto de trabalho.
Reforma da Previdência
Ao mesmo tempo em que os idosos despontam como os mais prejudicados pela crise, ficando à margem das novas contratações, a reforma da Previdência Social é encarada como mais uma pedra no sapato para essa faixa etária. As mudanças que serão postas em prática ainda não estão definidas na totalidade, mas já se sabe que a principal proposta envolve justamente o estabelecimento de idade mínima de 65 anos para a aposentadoria.
Mas se o mercado vem "dispensando" os idosos em ritmo crescente, como será absorvido esse contingente maior de pessoas mais velhas que terão que trabalhar?
– Para mudar esse cenário, será preciso que exista um fomento à contratação de idosos por parte de empresas, governo e entidades. Os pontos positivos dessa faixa etária, bem como programas de qualificação, terão que ser discutidos – avalia o professor de Administração do Centro Universitário da Serra Gaúcha (FSG), Fábio Teodoro Tolfo Ribas.
Em artigo publicado pelo Sindicato Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Idosos (Sindnapi), o presidente da entidade, Carlos Ortiz, entende que com o aumento da expectativa de vida dos brasileiros é necessário encontrar soluções para garantir a sustentabilidade do sistema previdenciário, mas acredita que implantar idade mínima não seja o caminho. "Todos sabemos que a partir dos 40 anos o mercado começa a se afunilar. Depois dos 50, então, é muito complicado conseguir emprego. Se se considerarmos a atual conjuntura, com 12 milhões de desempregados, a idade mínima torna-se uma tragédia. Além de não haver vagas para todos no sistema, há equações difíceis de serem resolvidas, tais como um idoso que tem de trabalhar na construção civil ou em uma linha de produção automotiva, com ritmos e jornadas extenuantes. Considerando que ele consiga emprego, o que é improvável, haverá uma limitação física para desempenhar a função", analisa Ortiz.
Seu Luiz quer trabalhar
Desde os 13 anos de idade, Luiz Carlos Rech, 67 anos, não sabe o que é ficar parado. Com três carteiras de trabalho repletas de anotações profissionais, ele acumula experiências em setores como indústria e construção civil. Também trabalhou durante muito tempo como frentista de posto de gasolina e porteiro de empresas.
Há cerca de um ano, porém, Seu Luiz não está conseguindo mais nenhuma oportunidade fixa. Disposto e bem articulado, já entregou mais de 30 currículos no mercado:
– O problema é que não me chamam nem para entrevista. Como tem muita gente procurando emprego, as empresas descartam quem tem mais de 45 anos sem analisar direito – lamenta.
Aposentado há 12 anos, Seu Luiz tem como renda fixa um valor de um pouco mais de R$ 1 mil por mês. O dinheiro, entretanto, sempre tem o mesmo destino: vai direto para o banco para o pagamento de empréstimos.
Enquanto não consegue um posto formal de trabalho, o aposentado tem vendido bilhetes de loteria. O valor recebido é simbólico – apenas R$ 10 por turno mais alguma possível comissão –, mas ao menos o mantém na ativa. Quanto ao emprego que espera chegar, Seu Luiz não faz objeções:
– Faço qualquer coisa, sempre fiz. Não tenho medo de trabalhar, tenho medo de não conseguir mais trabalho – resume.
DICAS PARA CONSEGUIR EMPREGO
Para os idosos que pretendem retornar ao mercado de trabalho, o professor de Administração do Centro Universitário da Serra Gaúcha (FSG), Fábio Teodoro Tolfo Ribas, dá algumas dicas:
:: Exalte a experiência – No currículo e/ou na entrevista, ressalte toda os pontos positivos que possui, enumerando as atividades que já desempenhou e a experiência que possui no trato com as pessoas.
:: Busque qualificação – Os jovens que buscam vagas no mercado de trabalho costumam ter um currículo turbinado com cursos, ensino superior, palestras... É importante que os idosos saibam aliar a experiência que possuem com mais qualificação.
:: Familiarize-se com a tecnologia – Alguns idosos não são contratados porque não contam com conhecimentos de tecnologia. Vale buscar orientações nessa questão para, ao menos, se familiarizar com a questão.
:: Empreenda – Utilizar o conhecimento e a experiência para abrir um novo negócio pode ser uma boa opção para os idosos. Faça um bom planejamento de negócio e avalie as possibilidades.
Mercado de trabalho
Idosos sofrem mais com a crise em Caxias
Taxa de desemprego é maior na faixa etária que contempla pessoas com mais de 59 anos
Ana Demoliner
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