Não é só o comércio que sofre impactos significativos com o calorzinho das últimas semanas em pleno inverno. Se nas lojas a regra está sendo adiantar as liquidações da estação, na agricultura as altas temperaturas também anteciparam processos. Boa parte das variedades de pêssego, ameixa, uva e maçã da região passam atualmente pela fase de floração e algumas precoces até já formam frutos.
Em média, a antecipação nas produções da Serra está sendo de três semanas, revela o engenheiro agrônomo e assistente regional de fruticultura da Emater, Enio Ângelo Todeschini. Enquanto a média histórica nos últimos 36 anos aponta registros de mais de 400 horas de frio por ano (temperaturas abaixo de 7ºC), em 2015, até o momento, somente um pouco mais de 100 horas foram completadas. Nas videiras, por exemplo, o ideal seria ao menos 300 horas de frio (abaixo de 7ºC) na estação.
- Em agosto, além da ausência do frio, tivemos dias de extremo calor, o que refletiu ainda mais na antecipação - explica Todeschini.
O engenheiro se refere, por exemplo, ao dia 8 deste mês, data em que a máxima de 30ºC foi alcançada em Caxias. É a temperatura mais alta registrada em agosto desde 1999. Olir Schiavenin, coordenador da Comissão Interestadual da Uva e presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Flores da Cunha e Nova Pádua, conta que não lembra de um período com tantos dias quentes em pleno inverno:
- Esse calor não é bom para nenhuma fruta - assegura, acrescentando que a dormência da planta no inverno, como é o caso das videiras, é importante para a recuperação da vitalidade.
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A antecipação dos processos, destaca Todeschini, traz dois problemas para a fruticultura: um inevitável e outro que pode não acontecer. O que já é certo é que a brotação irá ocorrer de forma desuniforme, o que costuma interferir na quantidade da colheita:
- Esse adiantamento costuma gerar menos gemas (que dá origem a folhas e flores) na planta, então o potencial dela fica abaixo do normal.
O segundo problema é bem mais preocupante. Se o frio decidir voltar, o que não seria raro, já que as temperaturas costumam ficar baixas na região até 20 de setembro, boa parte das produções podem ser queimadas, alerta Todeschini:
- Temos então uns 30 dias de grande risco, em que as plantas não estão mais preparadas para o frio. Uma geada seria fatal.
Medo do frio
Calor em pleno inverno adianta processos na fruticultura da Serra
Produtores temem agora que os termômetros caíam novamente e tragam geadas
Ana Demoliner
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