Com planejamento e organização, muitas empresas da Serra apostam em alternativas para contornar os problemas de logística e transporte que impactam diretamente nos custos de produção e no preço final dos produtos. Para se ter uma ideia do tamanho do problema, os custos com essa área, segundo pesquisa do Instituto de Logística e Supply Chain (Ilos), correspondem hoje a 11,5% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. No âmbito das empresas, os gastos com transporte, estoque e armazenagem representam até 8,7% da receita líquida.
Enquanto aguarda melhorias na infraestrutura de estradas e maior oferta de transporte ferroviário, por exemplo, o diretor-presidente da Fante Indústria de Bebidas, de Flores da Cunha, Júlio Fante, vem apostando na operação de cabotagem para enviar vinhos, sucos e destilados de navio para as regiões Norte e Nordeste. Do total de mercadorias embarcadas pela Fante para o outro lado do país, cerca de 50% são enviadas por esse sistema.
Diariamente, os contêineres são carregados e seguem de caminhão em direção aos portos de Rio Grande ou Itajaí (SC), de onde seguem de navio para terminais cidades como Recife, Belém e até Manaus. Fazendo a conta na ponta do lápis, o empresário calcula que a cabotagem custe entre 20% e 30% mais barato do que enviar os produtos por estradas.
- E se estivéssemos mais próximos do porto, esse custo seria ainda menor. Hoje, ainda precisamos percorrer em torno de 400 quilômetros para levar o contêiner até o navio. Se estivéssemos em Rio Grande, por exemplo, poderíamos enviar até 90% dos pedidos para o Norte e Nordeste pelo mar - afirma.
Outra vantagem da cabotagem é a qualidade do transporte. Segundo Fante, os produtos não sofrem variação de impacto como no modal rodoviário, sujeito a buracos e desníveis na pista.
Como não conta com um transporte ferroviário que atenda a Serra, a empresa de Fante segue tendo de enviar mercadorias pela estrada para Estados bem distantes como Goiás e Mato Grosso, por exemplo, ou até para o Paraguai, onde não é possível usar a cabotagem.
- Seria muito bom se tivéssemos o trem porque poderíamos entrar com mais força no centro do país, lugares que ficam distantes mais de 3 mil quilômetros daqui. Hoje, o grande custo com transporte é o trecho de longa distância - garante.
A Marelli Ambientes Planejados, fabricante de mobiliário corporativo de Caxias do Sul, ainda segue usando caminhões para transportar seus produtos a vários Estados. O diferencial, no entanto, é o sistema de transporte próprio: em vez de contratar uma empresa terceirizada, a Marelli criou sua própria transportadora, a Rodomóvel.
O gestor de logística, Gilberto Prandes, explica que o grande motivador foi a carência de prestadoras de serviço qualificadas, além da necessidade de agilizar as entregas aos clientes. Mesmo descontados os gastos com manutenção e depreciação dos veículos, combustível, pneus, seguros e impostos, além das despesas com funcionários, a Marelli economiza, por ano, em torno de 0,5% de seu faturamento nos gastos com o transporte.
Para garantir esses números, a empresa apostou no treinamento dos funcionários, no aproveitamento e racionalização das embalagens, que não precisam ser tão reforçadas como as que seguem em transportadoras comuns, e até no tamanho dos baús de carga, que têm 118 m³. De acordo com Prandes, a empresa investiu cerca de R$ 80 mil em uma máquina que fabrica cantoneiras especiais, que protegem as quinas dos móveis e reduziu as avarias.
- Além disso, ganhamos em tempo. A mercadoria chega ao pátio, é embarcada e segue para o destino em seguida. Ao chegar, não precisa ficar esperando no pátio da transportadora. E como a frota é rastreada, o cliente pode saber exatamente onde está a sua carga - acrescenta Prandes.