
Cercado de crianças curiosas, que se dividiam entre o lanche, risadas e perguntas, o humorista e ator Paulo Vieira encerrou as gravações do programa Avisa Lá Que Eu Vou, da TV Globo, em Monte Belo do Sul, nesta quarta-feira (12). A Escola Municipal Egydio Zanchet foi o último cenário da série de entrevistas que o artista realizou na cidade desde domingo (9). O programa sobre o município da Serra deve ir ao ar em junho, abrindo a quarta temporada da atração em tv aberta.
A receptividade dos moradores, evidenciada por toda a equipe durante a conversa com a reportagem, não deixou a desejar na despedida. Paulo foi recebido com grostoli, café e bolo. Ouviu uma música ensaiada especialmente para ele e entrevistou a professora Linara Segalin sobre o talian. Brincando, o humorista pediu que a docente ensinasse um xingamento no idioma cultivado pelos descendentes dos imigrantes italianos.
Pesquisadora de conteúdo do programa, Daniela Jones contou que descobriu Monte Belo do Sul por acaso ao ver um vídeo do secretário de Cultura e Turismo do município, Alvaro Manzoni, cortando uma polenta com um fio de barbante. A conversa iniciou pelas redes sociais e a equipe global ficou encantada pelos atributos do município da Serra, como o tombo da polenta gigante, a vindima e as histórias dos imigrantes italianos.
— Viemos nessa pegada de cidade de interior, onde todo mundo se conhece, todo mundo mantém as tradições. Foram muitos pontos que nos conquistaram — destaca Daniela.
Para Paulo, Monte Belo do Sul traduz a alma do povo gaúcho, com personagens rurais que se orgulham do campo.
— Por mais que o gaúcho esteja na cidade, ele tem um amor pelo rural, ele reconhece que o pai e o avô vieram do campo, que a terra é importante, que é de lá que vem os valores principais desse povo. Eu sempre fui muito encantado por esse Rio Grande do Sul rural. Por isso que quando a gente vem fazer o Sul pela primeira vez, faz primeiro Monte Belo, porque eu acho que a cidade encapsula um pouco dessa alma do povo gaúcho — evidencia o humorista.
A próxima parada da equipe, a partir de quinta-feira, é a cidade de Ametista do Sul, localizada no norte do Estado.
Confira, abaixo, a entrevista completa com o artista.
Pioneiro: o que você acha que nos difere e o que nos aproxima do restante do país, a partir dessas tuas andanças pelo Brasil?
Paulo Vieira: Acho que a diferença é que cada lugar tem uma ancestralidade única. O Brasil é um país continental que foi influenciado e colonizado por muitos povos, então, em cada lugar do país que você for, você vai ver a maneira que a colonização se comportou naquele lugar e o tipo de sociedade, de pessoas e culturas únicas que essa mistura gerou.
O que eu acho que é parecido no Brasil inteiro, além dos valores, acho que o Rio Grande do Sul tem valores muito parecidos com os meus, com os que eu encontro pelo país afora. A fé é um valor muito importante, a família, a tradição, a ancestralidade, o reconhecimento aos mais velhos, tudo isso são valores que eu vejo que fazem parte do DNA do brasileiro.
Além disso, uma coisa que aproxima todo o país é a mistura. Acho que realmente a mistura é o que define o nosso país, você tanto vai ver no interior do Pará a mistura do caboclo com o indígena, você vai encontrar na Bahia a mistura do negro com o português, quanto aqui também você vai encontrar a mistura do italiano com o brasileiro.
Essa é a primeira vez que vocês gravam em uma cidade do Rio Grande do Sul. Você tinha algum estereótipo do povo gaúcho?
Eu já vim muito para o Rio Grande do Sul. No início da minha carreira, eu fazia muito show aqui, muito mesmo. Comecei a vir para cá com 17 anos de idade, fazendo show de stand-up e eventos. Depois, quando eu fui para a Globo, a minha carreira ficou muito voltada para televisão e eu parei de fazer shows pelo Brasil, então fiquei um tempo sem vir.
Mas sempre frequentei muito aqui o Rio Grande do Sul, sempre fui muito feliz aqui, sempre fui muito bem tratado e na verdade eu sempre tive um olhar para o povo do Rio Grande do Sul, que é o olhar que eu buscava para o Avisa Lá Que Eu Vou, que é esse olhar do Rio Grande do Sul rural, que eu acho que é o Rio Grande do Sul que mais representa a alma do gaúcho.
O programa já está entrando na quarta temporada e é sucesso de audiência. Qual é a fórmula do sucesso na tua opinião?
Eu acho que o programa faz muito sucesso porque as pessoas se reconhecem nele. A gente está num mundo em que as pessoas querem muito coisas verdadeiras. Estamos em um mundo com tanta coisa armada, com tanta mentira, com tanta coisa de plástico, sabe? Por isso, acredito que as pessoas estão cada vez mais buscando aquilo que as representem, buscando coisas que estão alinhadas com o que elas têm como verdade na vida delas.
Por isso, meu programa, basicamente, é o anônimo do interior e eu acho que todo mundo tem um carinho por essas pessoas, porque além de se reconhecer nela, reconhece a sua família nela. Quando eu converso com uma senhora no interior do Brasil, a pessoa de casa imediatamente lembra da avó, da tia, de uma amiga,
O anônimo, muitas vezes, cria mais proximidade com o público do que um personagem inventado. Além disso, o programa começou num momento em que o Brasil quer se reconhecer, o Brasil quer se valorizar. O Avisa Lá fala muito sobre isso: sobre todo mundo ter valor, todo mundo ser importante. Qualquer pessoa, não importa onde mora e não importa quem seja, tem valor. Você merece estar na televisão, você merece ter a sua história contada, você merece ter voz.
E ao que você atribui essa facilidade de as pessoas contarem as histórias delas para você?
A primeira coisa é o tempo. As nossas entrevistas são longas, então, temos um tempo. Vamos no tempo da pessoa. Depois tem uma técnica que eu aplico nas minhas entrevistas que é de exposição, eu nunca deixo a pessoa se expor sozinha. Às vezes, inclusive, eu me exponho primeiro que ela, para que ela se sinta à vontade para se expor.
É realmente uma conversa, eu não estou ali para roubar a história da pessoa, eu estou ali para a gente compartilhar junto as nossas histórias. A partir disso, a pessoa vai criando uma confiança para te contar aquilo que ela não contaria para ninguém.
A Marília Gabriela me falou uma coisa interessante sobre entrevista. Ela diz que uma entrevista é uma dança. Você não pode deixar a pessoa dançando sozinha. Primeiro você convida, depois você vai dançando de levinho, até no final você fazer passos arriscados, jogar a pessoa para cima, pular, mas precisa ter a gentileza.
Outra coisa que ajuda é que as pessoas têm uma relação muito próxima comigo. Elas não têm nenhum respeito (risos), no sentido, assim, de um "pedestal". Parte do nosso segredo é realmente ser tratado como um comum, como uma pessoa de casa, que chega e que está mexendo nas panelas e conversando ao mesmo tempo. E isso é muito gostoso, né?