
Com o objetivo de transformar o prazer feminino em tema corriqueiro nas rodas de conversa e quebrar o tabu da sexualidade, a influenciadora e sexóloga Cátia Damasceno vai palestrar nesta sexta-feira (7), no UCS Teatro, em Caxias do Sul.
Com mais de 13 milhões de seguidores nas redes sociais, Cátia é conhecida por falar abertamente sobre sexo, fetiches, uso de objetos sexuais e da busca pelo prazer na cama.
Em entrevista ao Pioneiro, entre outros assuntos, a sexóloga e fisioterapeuta falou sobre sexo após os 50 anos, a busca do prazer feminino e o momento certo de se falar sobre a sexualidade com os filhos.
Sete dias: Como você começou a falar abertamente sobre sexualidade feminina?
Cátia Damasceno: Eu sou fisioterapeuta e minha especialização é na área da saúde feminina. Comecei o meu trabalho em 2004 para as gravidinhas, com fortalecimento do assoalho pélvico para parto e pós-parto. As alunas iam falando e percebendo o que ia acontecendo no corpo delas para melhor. Iam contado para as amigas delas os benefícios de, por exemplo, facilitar no processo do parto e na recuperação. Só que para quem não está grávida, ou mesmo para quem está, tem os outros benefícios associados, melhora da lubrificação, o canal vaginal fica mais apertadinho. Eu tinha várias alunas que nunca tinham tido um orgasmo.
As mulheres ainda têm muito receio de falar sobre isso?
A internet trouxe uma facilidade muito grande de comunicação e acesso à informação. Mas o receio sempre houve, o tabu sempre houve. Só que antigamente elas tinham que dar um passo a mais. Hoje em dia eu tenho o meu curso online, mas antigamente eu só fazia curso presencial. Então elas tinham que ir. Eu percebo que havia de se transpor um obstáculo a mais, por isso eu acredito que essas mulheres tinham muito mais coragem. Mas sempre houve uma busca das mulheres a respeito do reconhecimento da sua própria sexualidade e da sua própria feminilidade.
Qual a importância de as mulheres conhecerem o corpo, entenderem o que é bom e o que não é, e em como "chegar lá"?
O corpo feminino é uma máquina que foi produzido para sentir prazer. A prova disso é que nós temos o clitóris, que é um órgão no nosso corpo que ele só funciona para dar prazer, para mais nada. Ao contrário do pênis, que participa do sistema urinário, dos testículos que participam do sistema reprodutor. O clitóris não produz hormônio, não faz xixi, não menstrua. Ele está ali única e exclusivamente para dar prazer para a gente. O nosso corpo foi criado e projetado para nos dar prazer. Eu acho que a busca desse próprio prazer, do auto prazer, do prazer com o outro, ela é libertadora em diversas camadas. Uma mulher que consegue ter orgasmo é uma mulher livre. É uma mulher segura de si. Uma mulher que é capaz de dizer não na cama é capaz de dizer não em qualquer situação da vida.
Algumas mulheres estão começando a descobrir os brinquedos sexuais. Esse tipo de acessório também pode ajudar a apimentar a relação?
É uma coisa a ser explorada pelas mulheres. É uma forma de descoberta da sua própria sexualidade. Os homens não precisam ter medo de usar um brinquedinho junto com a mulher. Ele não está competindo. É como se fosse um GPS da felicidade.
Os homens também vão nas suas palestras? Teu público é de pessoas mais jovens ou mais velhas?
É um público eclético. No Instagram, hoje, dos meus 13 milhões de seguidores, 10% são homens. No YouTube, 30% do meu público é masculino. Tem bastante gente jovem e também pessoas mais velhas. Vai dos 18 aos 80. A última apresentação que eu fiz em São Paulo tinha um casal, ele com 69 anos e ela com 65. Sexualidade é um assunto eclético e que permeia todas as idades.
Falando em idade. O sexo ainda é um tabu para quem já passou dos 50 anos?
Eu já estou vivenciando isso. Há um etarismo muito grande e não é nem velado. Todas as vezes que eu posto alguma coisa, sempre tem um comentário: "Lá vem essa velha falando o que não deve" ou "Por que uma velha dessa tá falando de sexo?". Eu faço 49 anos semana que vem e as pessoas já me consideram velha. Velha não pode falar sobre sexo e muito menos fazer sexo. As pessoas acham que a vida sexual do humano tem um prazo de validade? E que prazo de validade é esse? Fez 50 anos e não transa mais? Isso é a cabeça do jovem. Mas quando a gente chega nas mulheres dessa idade, a gente vê e já é estatístico que os jovens estão transando muito menos do que se transava antigamente. O avanço das redes sociais trouxe uma diminuição do contato físico e da exploração da sexualidade a dois.
Existe um momento certo para se falar da sexualidade com os filhos?
Se você for esperar o fim da adolescência para começar a falar, já está errado. Ele já foi, já fez, fez errado ou fez por curiosidade. O assunto de sexualidade tem que ser abordado dentro de casa desde quando a criança pergunta. E a criança sempre pergunta porque ela é curiosa. Ela entende que o corpinho do menino é diferente do corpinho da menina. Isso já é falar sobre sexualidade. E é isso que as pessoas não entendem. A sexualidade tem que ser abordada com naturalidade, em qualquer etapa da vida. E o meu conselho como sexóloga e como mãe, é que se a criança perguntou, não desvie do assunto. Se o pai ou a mãe desviar do assunto, a criança vai registrar que aquele assunto não pode ser conversado com o papai e a mamãe. Isso vai gerando curiosidade, tabu e trauma, que é o que a gente não quer que aconteça dentro das famílias. Quanto mais nós conversamos sobre sexualidade com os nossos filhos, mais a gente previne relações abusivas. Porque se a mãe ou o pai explicam que a parte íntima não pode ser tocada por ninguém, a gente previne relações abusivas.
Programe-se
- O quê: Cátia Damasceno em Caxias do Sul.
- Onde: UCS Teatro (Rua Francisco Getúlio Vargas, 1.130 - bairro Petrópolis - Caxias do Sul).
- Quando: Sexta-feira (7), às 20h. Abertura da casa às 19h.
- Classificação: +18 anos.
- Quanto: ingressos à venda pelo site Minha Entrada, a partir de R$ 110 (+taxas).