O emaranhado de palavras que compõe o jornal impresso assume e missão essencial de informar, da maneira mais clara, completa e objetiva possível. Mas a palavra é matéria-prima tão ampla... Pensando em expandir um pouco essas possibilidades linguísticas, mas, sobretudo, interessado em oferecer ao leitor a possibilidade de desligar um pouco a chave dos "fatos reais" e treinar o olhar para outros tipos de cognições é que o Almanaque estreia neste fim de semana uma coluna dedicada à poesia. Os textos são assinados pelo escritor Rafael Farina, catarinense radicado em Bento que já lançou dois livros dedicados ao gênero: Falhas que só existem no Sul (2018) e Ossos açucarados (2021).
— A Matilde Campilho diz que "a poesia talvez não mude o mundo, mas pode mudar aquele minuto, e isso já basta". O mundo precisa de mais poesia porque o mundo precisa de muitos reparos, e quem deveria liderar esses consertos, políticos e grandes lideranças, está sempre mais interessado em abrir novas feridas — defende Rafael.
O primeiro exercício do autor com a poesia foi ainda na adolescência, quando tentou formar versos inspirados numa menina pela qual era apaixonado. Aos poucos, Rafael foi entendendo a poesia, e a escrita num geral, como uma poderosa válvula de escape. No contato com os leitores do Almanaque, ele pretende compartilhar ideias capazes de provocar o olhar para fora do convencional.
— A poesia representa a possibilidade de preencher espaços que a realidade nem sempre alcança. Representa uma nova chance de mudar a realidade, mesmo que somente por um breve instante — diz.
A coluna assinada por Rafael foi batizada com o sugestivo nome de Respiro. Para a doutora e mestre em Letras e professora da UCS Flávia Brocchetto Ramos, é justamente isso que a poesia representa. Ela, no entanto, sugere a palavra "oásis".
— Esta coluna vai ser um oásis. Um espaço para que o leitor interaja com uma outra forma de organização da linguagem e uma outra forma de perceber o mundo — prevê.
A professora chama atenção ainda para o caráter polissêmico da poesia. Além das inúmeras possibilidades de provocar o sentir, também estão implícitos nos versos dos poetas muitos silêncios, muitos vazios. Fica o convite para que o leitor se coloque nessas brechas.
— A presença da poesia no jornal prevê uma relação com o texto de uma outra ordem. O leitor vai entrar em contato com um texto com muitas lacunas, e essas lacunas vão ser preenchidas por sua vivência. Enquanto o jornalismo é preciso, a poesia vai ser difusa — revela a professora.
Poetas indispensáveis para Farina
- Mario Quintana
- Dylan Thomas
- Arthur Rimbaud
- Charles Baudelaire
- Sophia Breyner
- Manuel de Barros
- Paulo Leminski