Os amantes do blues vão ficar ainda mais tristes durante essa época de pandemia: o Mississippi Delta Blues Bar, que em quase 14 anos (foram 13 anos e oito meses) serviu como palco para grandes shows nacionais e internacionais, fecha as portas na Estação Férrea, em Caxias do Sul. O empreendimento, liderado por Toyo Bagoso e Rodrigo Parisotto, encerrou suas atividades no dia 17 de março após o decreto municipal que suspendeu o funcionamento dos serviços não essenciais, e não abriu mais. E nem abrirá. Ao menos ali, no local onde surgiu, no coração de São Pelegrino.
Há tempos que Toyo não escondia, em conversar entre amigos e também em entrevistas recentes, que estava difícil manter o bar em funcionamento. O público, segundo ele, não frequentava mais o local como antes, “talvez pela crise econômica, talvez por novas opções de entretenimento”. Mas o determinante mesmo, de acordo com Toyo, foram as constantes confusões registradas na Estação Férrea nos últimos anos. Outro ponto levantado é que, com a pandemia de coronavírus, os bares e os eventos artísticos devem ser os últimos a serem liberados para voltar a funcionar.
A administração do Mississippi no Rio de Janeiro, aberto há três anos na Gamboa, também, ele admite, pode ter tornado tudo um pouco mais difícil. A “cara” do bar, Toyo se dividia entre o RJ e o RS frequentemente. Tentou, sempre, fazer com que os dois empreendimentos, cada um no seu ritmo, oferecessem ao público o melhor do blues.
— Não deu pra manter — resume Toyo.
No entanto, o empreendedor caxiense do blues, que seguirá investindo suas forças no Mississippi RJ, não pretende encerrar tudo o que começou em Caxias. No início dessa semana, contatou os administradores dos pavilhões da Festa da Uva para ver da possibilidade do Mississippi seguir funcionando dentro de um projeto gastronômico nas réplicas do parque. Na última edição da Festa da Uva, em 2019, o bar ocupou um dos espaços levando música e gastronomia aos turistas que visitavam a festa caxiense:
— Não desmontamos a estrutura desde o ano passado. Lá tem ainda uma parte do bar montado, com balcões e decoração. A ideia, se tudo for aprovado, é que funcione de quinta a domingo. Mas ainda estamos em negociação, nada é certo, principalmente nesse momento que estamos vivendo.
O espaço na Estação Férrea, alugado, começou a ser desmontado no início dessa semana. Alguns móveis e objetos icônicos e memoráveis, como a guitarra Gretsch Bo Didley (uma edição limitada!) e um quadro Maxwell Street de Chicago, entrarão em um leilão virtual nos próximos dias. A ideia é que cada um que passou pelo Mississippi possa sempre levar para casa um pedacinho do bar para lembrar das noites cantantes e de shows emblemáticos, como o da americano (quase caxiense) Bob Stroger, de James Cotton, de J.J Thames, de Larry Mud Morganfield, e de talentos brazucas como Alamo Leal e Igor Prado.
O dinheiro arrecadado no leilão servirá, também, segundo Toyo, para pagar os fornecedores e demais obrigações trabalhistas.
E o Festival?
A edição 2020 do Mississippi Delta Blues Festival está com data confirmada desde o ano passado e deve ocorrer nos dias 19, 20 e 21 de novembro, com o tema Clarksdale Edition. Mas, ao contrário do que aconteceu nos últimos 12 anos, um dos maiores eventos de blues da América Latina não deve ocorrer na Estação Férrea — caso a pandemia, claro, não faça com que o evento MDBF seja cancelado.
— Pode acontecer na Maesa, é uma vontade que tenho, mas não sei ainda. Estamos vendo possibilidades — avisa Toyo.
Em 2020, o MDBF também seria realizado em Gramado, em agosto. A novidade, no entanto, está descartada por enquanto.