Mergulhar em si talvez seja o processo mais recorrente na obra de Beatriz Balen Susin, que completa 50 anos de carreira em 2016. Não são as pinceladas vigorosas com tinta a óleo ou a presença das figuras humanas que melhor definem o trabalho da artista plástica, mas essencialmente o percurso de autoconhecimento forjado ao longo de 45 mostras individuais, como A memória das águas, que abre nesta quinta-feira, em Caxias do Sul.
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Nas obras expressionistas afixadas nas paredes da Galeria Gerd Bornheim – uma série inédita de 14 pinturas em tinta a óleo, em grandes dimensões, que tratam da natureza humana e a suas ligações metafóricas com a água –, Bea expõe o resultado de um processo criativo iniciado em março, que dá sequência a uma produção ininterrupta ao longo das cinco décadas de carreira e quase 70 de vida, a serem completados na próxima semana.
– Não é uma exposição comemorativa ou de retrospectiva, porque eu trabalho continuamente. Nesses 50 anos eu resgato eu mesma, nunca fui atrás de modismos, tendências. Busquei uma coerência com meus pensamentos, com a expressão do meu inconsciente – diz.
As múltiplas camadas de cor – ou "a cor que fala, como Bea a define –, tão presentes nas criações da artista, misturam-se, nesta série, às ideias presentes nos textos do filósofo francês Gaston Bachelard, de que a "imaginação das mãos" está ligada à repetição de padrões dos quatro elementos e é a linguagem primária do inconsciente.
Essa mistura da água com a terra, o barro que surge daí, remete a uma percepção de primitivismo, de começo que interessa à artista. Bea gosta dessa rusticidade, mesmo expressando-se em um trabalho sempre instigante e de alto grau de apuração técnica.
Para conceber essa exposição, Bea foi vasculhar trabalhos do passado e percebeu que a água já havia aparecido em telas dos anos 1980 e em 1994, em outras técnicas como pastel ou aquarela, mas nunca como tema central de uma série. A curadora Silvana Boone explica que "metaforicamente, a água é um impulso para o mergulho intenso que é o processo criativo da artista: os pincéis são instrumentos-próteses inseparáveis de suas vigorosas mãos, aliados ao pensamento criativo formado por uma vida plena de estudo".
– A arte é a visão mais autêntica que o ser humano tem de seu interior – afirma a artista.
Em março de 2017, essa exposição integrará a mostra retrospectiva dos 50 anos de carreira, incluindo desenho e gravura, no Museu de Arte do Rio Grande do Sul (Margs), na Capital.
PROGRAME-SE
O que: exposição A memória das águas, de Beatriz Balen Susin
Quando: abertura nesta quinta-feira, às 19h30min. Visitação até 26 de novembro, de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h, e aos sábados, das 10h às 16h
Onde: Galeria Municipal de Arte Gerd Bornheim, na Casa da Cultura (Rua Dr. Montaury, 1.333, Centro, em Caxias do Sul)
Quanto: entrada gratuita
Artes plásticas
Mostra "A memória das águas", de Beatriz Balen Susin, abre nesta quinta em Caxias do Sul
Exposição pode ser conferida até o dia 26, na Galeria Municipal
Tríssia Ordovás Sartori
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