
Quando era criança, em Curitiba, o ator Alessandro Müller convivia muito com um vizinho idoso que era bonequeiro. Foi ele quem o levou para conhecer o circo, ambiente no qual o garoto viu um mímico pela primeira vez. Neste ambiente, ainda que inconscientemente, formou-se o primeiro escopo do trabalho que Müller realiza atualmente à frente do grupo gramadense Nós Mimo e que mostra em Caxias do Sul nesta quinta, na praça Dante Alighieri.
– Na escola, eu ficava imitando aquilo que havia visto, as mímicas. Depois, já na adolescência, descobri que teatro era também literatura – lembra Müller, discípulo dos ensinamentos de grandes mestres como Jacques Lecoq (1921-1999) e Constantin Stanislavski (1863-1938).
Foi nessa época que o ator criou seu personagem mais antigo, Fritz. E é justamente ele a estrela do espetáculo de hoje à tarde, numa narrativa cômica baseada principalmente na linguagem da pantomima (teatro do gesto e da mímica). Mesmo incitando as gargalhadas, Fritz "fala" (ainda que sem palavras) sobre um homem que se vê corrompido pelo capitalismo. A ideia é transmitida por meio da troca de um chapéu velho e surrado por uma cartola nova e com as providenciais cores da bandeira dos Estados Unidos.
– Quando Fritz aceita trocar de chapéu, ele se sente mais forte, mais imponente, mais bonito. Mas ele fica preso num mundo imaginário deste chapéu – explica o ator.
Apesar da temática séria, Fritz é um espetáculo que sempre chama atenção das crianças e tem uma profunda ligação com o universo infantil. O próprio personagem foi batizado em homenagem a um menino que Müller conheceu quando fazia performances para crianças num hospital. O personagem que os caxienses poderão conferir hoje na Dante carrega um pouco da personalidade de Eduardo Fritz, que morreu de câncer.
– Acabei assumindo a personalidade dessa criança que conheci ainda quando eu era ainda adolescente. Criei o personagem me lembrando do Eduardo Fritz – aponta.
Essa ligação muito forte com a memória também faz parte do workshop que o ator ministra hoje à noite. Para explicar mais sobre a técnica que aplica, Müller cita um experimento do mímico francês Jacques Lecoq. Na ocasião, uma aluna foi solicitada a imaginar um cenário de sua infância e passou a chorar copiosamente ao "encontrar" um anel que havia ganhados dos pais escondido no fundo de uma gaveta.
– A memória do subconsciente é capaz de registrar coisas impressionantes. Pensando nisso, nossa tese é ir mais além, ativando essa memória propositalmente, provocando energia a partir de um sentimento mais aflorado – defende.
PROGRAME-SE
:: O que: espetáculo teatral Fritz
:: Quando: nesta quinta, às 16h30min
:: Onde: praça Dante Alighieri, em Caxias
:: Quanto: entrada franca
:: Workshop: nesta quinta, às 19h30min, no Moinho da Cascata, sede do Grupo Ueba (Rua Luiz Covolan, 2.820). Inscrições pelo e-mail nosmimo@gmail.com.
:: Veranópolis: o personagem Fritz chega a Veranópolis nesta sexta, em apresentação gratuita a partir das 14h, na Praça VX Novembro