Em matéria de eleições eu reconheço que sou quase zero à esquerda. Comecei me ferrando. Já explico: em 1960, quando da última delas, antes da Ditadura se consolidar, eu era "di menor" com meus 17 anos e assim fui cassado do humano direito de debutar nas urnas. O que me livrou de pecar e padecer um eterno remorso. Estou com a consciência tranquila: dessa ninguém pode me culpar por ter mandado para Brasília o maluco do Jânio Quadros, o maior entre vários outros doidos dessa estranha fauna que faz parte da gaiola das loucas – o “hospício parlamentar”, conforme o açougueiro fatiador Renam Calheiros.
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Desse modo, barrado do baile pelo limite etário, eu só fui “contemplado” (ou punido) com a chance de destinar o meu primeiro sufrágio presidencial exatamente trinta anos depois. Ao fazê-lo, em 1990, já próximo de ser um cinquentão, eu estava me nivelando, neste quesito específico, a qualquer principiante. E deu no que deu: de lá para cá, dois dos eleitos (FHC e Lula) botaram faixas de bicampeões, enquanto dois outros (Collor e Dilma) tomaram o cartão vermelho. Antes deles, Getúlio preferira entrar para a história, desferindo um tiro no seu coração. Fatos que me fazem pensar que devemos ter um alto espírito democrático. Aliás, para não ir tão longe, mas indo, sem querer querendo, o primeiro presidente deste país, Deodoro da Fonseca, não chegou a emplacar um aninho como chefe da nação. Levou uma baita rasteira dos próprios companheiros de farda e quem acabou homenageado em monumentos, praças e ruas foi Floriano Peixoto.
Quem disse que "vice" não é nada?... No que me cabe, a chance de estrear na "cabine indevassável" deu-se em 1962 e não para sufragar alguma pessoa e, sim, uma idéia. Pois, de saída, já tomei bomba: no desastrado Plebiscito, eu resolvi optar pelo Parlamentarismo e perdi para o Presidencialismo. Tenho para mim, porém, que, por sua vez, o Brasil é quem perdeu a grande ocasião para se agigantar e dar um pulo maiúsculo em sua história minúscula. Mas, agora, resta-nos o consolo de dispor nada menos do que seis "prefeitáveis" para escolher. Esperemos que não se trate da irônica troca de seis por meia-dúzia. A tal história do mais do mesmo. Oxalá, benza Deus, que um deles tenha a competência desejada, torcendo, é óbvio, para que seja justamente o que for aclamado vencedor. E, depois, o elenco de 400 pretendentes à vereança compõe um exército para todos os gostos e tipos.
Há de tudo. Afinal, todos eles têm o direito de sonhar e contar com o apoio dos familiares, das amizades e da vizinhança. Por falar em contar, eu lembro que na minha tenra meninice, em 1950, concorriam dois candidatos a prefeito: Euclides Triches (que acabou ganhando) e João José Conte. E não é que nos palanques dos comícios do que iria realmente se eleger seus adeptos gritavam euforicamente: "Conte comigo!" Como assim, devia pensar Triches: "conto eu ou conta o outro?" Talvez tenha sido a eleição mais duvidosa de todos os tempos…