Filósofo italiano Nuccio Ordine palestra nesta terça à noite no UCS Teatro

Num mundo conflagrado por crises éticas, acossado por migrações mundiais que geram intolerâncias étnicas e religiosas, talvez as artes, a filosofia ou a ciência possam nos salvar da autodestruição. O filósofo e professor de literatura italiana da Universidade de Calábria, Nuccio Ordine tem sinalizado esta possibilidade no livro A Utilidade dos Saberes Inúteis (Ed. Zahar), cuja tradução foi feita pelo professor Luiz Carlos Bombassaro.

Confira as últimas notícias de Cultura e Tendências

Ordine estará nesta terça em Caxias, no UCS Teatro. O lançamento do livro será às 19h. Às 19h45min, o autor dá uma palestra sobre o tema que tem mobilizado a intelectualidade mundial.

- Diante do diagnóstico de que a escola e a universidade tornaram-se cada vez mais e tão somente espaços de formação para o mercado de trabalho, Ordine considera que se faz necessário repensar o sentido da educação. Ele mostra como é possível uma formação mais humana, reatualizando um debate bem conhecido pelo pensamento clássico, da filosofia à literatura, da ciência à arte - destaca Bombassaro.

Especialista na obra de Giordano Bruno, Ordine organiza no livro uma série de citações e comentários sobre Aristóteles, Ovídio, Foster Wallace e Ionesco. Segundo Bombassaro, trata-se de um discurso apaixonado pelos clássicos, pelo conhecimento desinteressado e pela gratuidade do saber, um patrimônio inestimável, mesmo que intangível.
 
- Num mundo marcado por práticas, valores e conceitos utilitaristas, o livro desenha um cenário complexo, problemático e, por isso mesmo, desafiador. Para Ordine, o que está em jogo tem tudo a ver com a lógica perversa que orienta a vida humana somente pela utilidade e pela racionalidade instrumental, a vida determinada pelo mercado. Sua principal crítica, portanto, volta-se para as bases de uma mentalidade que toma conta e corrompe todos os âmbitos da vida, as relações do homem com o mundo e consigo mesmo - explica o tradutor.

Observando uma crise moral e civilizatória estabelecida na contemporaneidade, Bombassaro destaca que o filósofo italiano - também colaborador do Corriere della Sera e doutor honoris causa na UFRGS - constrói uma crítica ao modo de pensar e de viver centrado na utilidade, no dinheiro, no lucro:

- Ele reconhece que não é fácil compreender a utilidade do inútil e a inutilidade do útil. A sobrevalorização do consumo e a desvalorização dos bens culturais, materiais e imateriais, é um resultado do processo de reificação e de mercantilização do qual vive a sociedade atual. Nela muitos somente sobrevivem, outros nem chegam mesmo a viver.

Assim, Ordine renova a crença no conhecimento como salvaguarda da humanidade:

- O discurso de que as humanidades perderam espaço com o avanço do conhecimento científico e da produção tecnológica não é novo. É fato que a filosofia, a literatura, as artes conheceram um declínio acentuado. Em muitos países, as humanidades correm até mesmo o risco de simplesmente desaparecer, em razão da sobrevalorização do que é útil. Ordine argumenta que as ciências somente poderão se desenvolver por meio da criatividade e da imaginação que são cultivadas pelas humanidades.

SERVIÇO

A palestra será em italiano, com tradução do professor Luiz Carlos Bombassaro. A mediação será de Renato Henrichs e Jayme Paviani. A entrada é franca.