Embora os primeiros europeus tenham desembarcado na Serra há 140 anos, cidades como Caxias têm recebido fluxo contínuo de migrantes.
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A saída dos habitantes do campo rumo à cidade foi, com o passar do tempo, substituída por migrações urbanas. Desta forma, fronteiriços, nordestinos e latinos chegavam em busca de oportunidades e, mais recentemente, senegaleses incorporaram-se ao grupo daqueles que são atraídos pela possibilidade de prosperidade.
A movimentação provocou, também, o interesse de pesquisadores.
- Os processos que expulsam os imigrantes (italianos ou senegaleses) são semelhantes, mas as condições são distintas. A Europa tem um reconhecimento, a África, não - explica a historiadora Vania Herédia, organizadora do livro Migrações internacionais: o caso dos senegaleses no Sul do Brasil (Quatrilho Editorial, 292 págs., R$ 30, à venda na sala 202-3 do bloco H da UCS), lançado quinta-feira passada.
A obra é resultado das pesquisas coordenadas por Vânia, realizadas em parcerias com a Universidade Federal de Santa Maria, a Universidade de Passo Fundo e o Centro de Atendimento ao Migrante e financiadas pela Fapergs - desde 1998, a UCS tem um grupo de trabalho sobre as migrações.
O trabalho que deu origem à publicação foi apresentado no II Seminário de Mobilidade Humana e Dinâmicas Migratórias, na quinta, juntamente com a exposição fotográfica Touba, de Márcia Marchetto, e o vídeo Materialidades na imigração: senegaleses em Caxias do Sul/RS, de Cristiano Sobroza Monteiro e Juliana Rossa.
Vania explica que o objetivo do estudo foi traçar um perfil dos migrantes - quase 2 mil deles -, bem como observar o conflito existente nas comunidades de Santa Maria, Passo Fundo e Caxias. Em Santa Maria, por exemplo, eles não permanecem, porque não há oferta de emprego. Passo Fundo foi a primeira dessas cidades a receber africanos ainda em 2007, por meio de uma rede, e Caxias, além do emprego, tem uma Polícia Federal ágil na concessão de vistos, o que amplia o número de africanos no município.
- Ainda existe preconceito pelo desconhecimento da cultura africana - diz a historiadora, destacando que se tratam de migrações laborais, e os senegaleses não costumam chegar primeiro em regiões metropolitanas.
Na percepção de Vania, os senegaleses que deixam a África têm condições, inclusive financeiras, de se deslocar. São, quase na totalidade, homens jovens, devotos à religião muçulmana e com fortes laços familiares. São disciplinados e honestos, mas não têm apego pelos lugares.
- Se o migrante encontra trabalho, fica. Há uma mobilidade nos deslocamentos e, além disso, eles precisam mandar dinheiro para casa - diz.
Ao longo do estudo, o que mais chamou a atenção da pesquisadora foi a força que a educação, mesmo que informal, tem na cultura dos senegaleses.
- Não sabemos nada sobre eles e eles não sabem nada sobre nós. Mas, na prática, há um sincretismo. Olhando e comparando (para dados de ambos os países), podemos dizer que o Senegal está 20 anos atrás de nós (em desenvolvimento).
Publicação
Historiadora de Caxias lança livro sobre a chegada dos senegaleses ao Sul do país
A obra é resultado das pesquisas coordenadas pela historiadora Vania Herédia
Tríssia Ordovás Sartori
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