No clima do Dia dos Namorados, o romantismo pauta a edição da Quinta Sinfônica que ocorre nesta quinta-feira, às 20h30min, no UCS Teatro (bloco M da Cidade Universitária), em Caxias do Sul, com regência do maestro Manfredo Schmiedt. A apresentação da Orquestra Sinfônica da UCS terá como solista convidada a soprano Susie Georgiadis, porto-alegrense radicada na Itália.
O repertório do concerto traz obras que relatam intensas (e trágicas) histórias de amor. A abertura será com Vorspiel und Isolden's Liebestod, da ópera Tristão e Isolda, de Richard Wagner. Depois, vêm quatro canções para voz e orquestra, de Richard Strauss: Zueignung Op. 10, Nº 1 (Devoção); Morgen Op. 27, Nº 4 (Amanhã); Langsam (Lento); e Caecilie Op. 27, Nº 2 (Cecília). Após o intervalo, é a vez de interpretar Romeu e Julieta - Suite No. 2 Op. 64, de Sergei Prokofiev: Montéquios e Capuletos, Julieta Menina, O Frei Laurêncio, Dança, Romeu junto de Julieta antes de sua separação, Dança das jovens das Antilhas e Romeu no túmulo de Julieta.
Falando em ópera (e em histórias de amor), vale lembrar que Susie Georgiadis já interpretou diversos personagens em produções operísticas, entre elas Violetta Valèry, protagonista da La Traviata, de Verdi (inspirada no romance A Dama das Camélias); Mimì, em La Bohème, de Puccini; Susanna, na ópera As Bodas de Figaro, de Mozart; e Desdêmona, no Otello de Verdi, entre vários outros.
Na entrevista a seguir, ela fala um pouco da sua carreira. E para quem quiser conferir o concerto desta quinta, os ingressos custam R$ 10 e R$ 5 (estudantes e sênior) e podem ser adquiridos na Livraria do Maneco (Rua Marechal Floriano, 879).
Sua carreira foi desenvolvida principalmente na Itália. Qual a sensação de apresentar-se para um público brasileiro?
Susie Georgiadis: Na verdade, apesar de estar há muitos anos na Itália, iniciei como solista ainda no Brasil e tive a oportunidade de cantar várias vezes por aqui, principalmente em Porto Alegre e Curitiba, antes de viajar para a Europa. Posso dizer, porém, que depois de tantos anos fora do país as minhas impressões e sensações mudaram. Pessoalmente é uma emoção muito grande para mim voltar a cantar na minha terra, ver amigos e parentes que não vejo há tanto tempo na platéia, são sensações difíceis de descrever. Além disso, o público brasileiro é extremamente caloroso e receptivo e tem muita vontade de ouvir música erudita e ópera, pois aqui, ao contário por exemplo da Itália, a ópera ainda é nova, é um mundo a ser descoberto.
Sua participação no concerto desta quinta inclui solo em "Vorspiel und Isolden's Libestod", da ópera Tristão e Isolda - uma história de amor trágica, como outras de óperas em que você já interpretou personagens ("La Traviata", "Otello", etc). Fale um pouco sobre essas suas participações em óperas.
O mundo da ópera me fascina muito, pois dá a possibilidade ao cantor de interpretar um personagem, de viver uma outra vida no palco, é uma mistura de teatro e música. Todas as óperas que tive o prazer de interpretar sempre me deixaram marcas e me enriqueceram como artista e como pessoa. Além de todo o trabalho técnico vocal e musical, é preciso estudar muito a psicologia da personagem, conhecer o momento histórico da ópera, conhecer muito bem todo o texto, palavra por palavra daquilo que se está dizendo. Por exemplo, La Traviata e Otello são duas óperas italianas, de Verdi, por isso cantá-las na Itália exigiu de mim um grande estudo. Sempre brinco dizendo que cantar uma ópera italiana na Itália é como para um europeu vir ao Brasil e sair sambando perfeitamente no Carnaval.
Sua discografia inclui parceria com Renato Borghetti, no disco "Reunião". Qual a sua ligação com a música brasileira atual?
A participação nesse disco foi uma experiência muito bacana. É um disco que reúne músicas da tradição italiana com músicas da tradição do sul do Brasil. Eu canto uma música do Lupicinio Rodrigues, Jardim da Saudade, e escolhi essa canção porque fala do Rio Grande do Sul. Foi gravado com a participação do pianista jazz italiano Umberto Petrin.
Eu sempre gostei muito da música brasileira e antes de iniciar formalmente o estudo de canto, eu pensava em ser cantora popular. Sempre gostei de cantar, desde pequena, a ópera chegou bem depois. Por isso sempre tive contato com outros estilos musicais e daí acabou acontecendo essa participação.
Com o Umberto Petrin participei de alguns festivais na Itália, nos quais apresentamos programas somente com música brasileira, de Cartola a Jobim, passando por Paulinho da Viola. Na verdade não foram muitas vezes, mas gosto de deixar um espaço para a MPB e tenho vontade de, algum dia, realizar um projeto que envolva a música brasileira popular e erudita.
Por fim, como você também é formada em Psicologia, eu não poderia deixar de perguntar: por que, na sua opinião, histórias de amor trágicas atraem tanto o público, seja na literatura, seja na música?
Eu acredito que nos sentimos atraídos pelo ideal do amor romântico, aquele que nos faz apaixonar de uma forma total, que nos leva a um estado de euforia porque temos uma fantasia que seja esse o amor maior. Os nossos parceiros românticos são endeusados, idealizados e ficamos apaixonados na verdade pelas nossas visões fantásticas. O poder desses sentimentos é incrível e por isso acredito que nos sentimos atraídos por essas histórias trágicas, nas quais o amor, o ideal romântico, está no máximo da sua potência, mas, como tal, se dissipa, tem de acabar. Acredito que nos sentimos atraídos da mesma forma por histórias com final feliz, mas o "felizes para sempre" nunca se vê , se pode só imaginar...
Música erudita
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