
São oito filhos, oito noras, um genro, 21 netos, 16 bisnetos e muita história para contar, recordar e celebrar em família. Foi o que ocorreu no último dia 20 de janeiro, em Flores da Cunha, quando dona Dosolina Longhi Francescatto comemorou a chegada dos 100 anos – esbanjando disposição e cantando o clássico Beijinho Doce, uma de suas músicas prediletas.
Filha de Antônio Longhi e Joana Suzin Longhi, Dosolina nasceu na Linha Amarílio, em Antônio Prado, no dia 19 de janeiro de 1924. Foi a número nove de uma prole de 13 irmãos, composta ainda por Bortolo, Pedro, Elisa, Nadalin, Joana, Anastácia, Adelino, Atílio, Luizin, Expedito, Maria e Marcelino – a família toda atuava na agricultura, dedicando-se ao cultivo de trigo, aveia, milho, batata, feijão, além de diversas hortaliças.
O “CANDIDATO”
Dosolina conheceu o futuro marido, Bonfiglio Francescatto, numa “reza de terço” em um domingo à tarde, na capela da comunidade – onde os homens sentavam-se do lado direito e as mulheres, do esquerdo.
Depois do culto, Dosolina e uma prima, indo para casa a pé, viram que logo atrás vinham Bonfiglio e um amigo. Diminuíram o passo para que eles se aproximassem. Bonfiglio perguntou a ela: “Me vuto insieme?”(você me quer junto?). Ela respondeu: “Imagina” – consta que Bonfiglio era o melhor e mais bonito “candidato” da comunidade. Não deu outra: eles “caminharam” juntos.
Conforme informações repassadas pela família, seu Antônio Longhi (o pai), consentia – ou não – quem a filha poderia namorar. Dosolina, então, dizia aos outros “candidatos” que o pai não a deixava namorar por ser muito jovem. Mas quando seu Antônio viu-a conversando com Bonfiglio, soltou: “Ah! Esse sim, Dosolina! Esse, sim!”.



CASAMENTO EM 1943
Após um período de namoro, Bonfiglio e Dosolina casaram em 2 de outubro de 1943 – ela com 19 anos, ele, com 21. A noiva rumou para a Matriz de Antônio Prado a cavalo – foi na frente, com véu, coroa e vestido branco, e os convidados logo atrás.
Nos primeiros cinco anos de casamento, Dosolina residiu com os sogros e os dois cunhados. O primeiro filho, Valdomiro, chegou em 1944, “de parteira”. A família recorda que a parteira levou todo o enxoval que era de seus próprios rebentos para Dosolina, pois, quando o bebê nasceu, não havia peças de roupa para ele – primeiramente, foi enrolado com um vestido, depois o “enfaixaram”, seguindo um costume da época.
Já em 1945, 15 dias após o nascimento do segundo filho (Irineu), seu Bonfiglio foi convocado para servir o quartel. A família recorda que, numa noite, o sogro entrou no quarto onde Dosolina chorava e perguntou: “Sito drio dormir? Ahhh! No. Adeso so parche pianche” (Estás a dormir? Ahhh! Agora sei porque choras). Chorava porque o esposo tivera de ir servir o Exército.
No total, Dosolina e Bonfiglio tiveram 10 filhos: Valdomiro, Irineu, Luizinha (falecida aos seis anos), Aldino, Oscar, Loreno, Jorge, Léo Leonor, Bernardete (in memoriam) e Valério. Dosolina ficou viúva aos 73 anos – seu Bonfiglio morreu em 3 de maio de 1997.



OLARIA MANFRO
Dosolina e Bonfiglio trabalharam arduamente na agricultura até que, almejando algo melhor à família, resolveram mudar para Flores da Cunha. Foi onde, em 1948, iniciaram o trabalho na Olaria Manfro – da qual tornaram-se proprietários tempos depois.
Com uma família numerosa, também não era fácil satisfazer as necessidades de todos. Mas Dosolina abraçava os diversos afazeres da casa e cuidava das crianças, da horta e da lavoura - um legado de trabalho, fé, união e amor à família devidamente celebrado no último dia 20.




COM A IDADE DO MUNICÍPIO
Natural de Antônio Prado, Dosolina tem a mesma idade do município de Flores da Cunha, onde reside desde 1948: 100 anos. Ela nasceu em 1924, mesmo ano em que a antiga Nova Trento emancipou-se de Caxias – a denominação Flores da Cunha foi adotada em 1935, 11 anos após a emancipação, em homenagem ao general e político que governava o Rio Grande do Sul.

