Em 18 de maio de 2018, Domingos Gedoz, 82 anos, teve parte de sua trajetória recordada neste espaço. Atuante durante 30 anos no setor de gravação da Maesa, seu Domingos foi perfilado no final de semana que antecedia o evento Abrace a Maesa, iniciativa que buscava reunir entusiastas da preservação e ocupação cultural da antiga metalúrgica.
Dois anos, cinco meses e seis dias depois, é a vez de dona Luci Lea Basso Gedoz, esposa de seu Domingos, ocupar esta página. O motivo é tão especial quanto. Dona Luci foi a escolhida para dar a “largada” de um projeto que mescla história, memória afetiva e, principalmente, laços familiares. Trata-se da empresa Legado - Histórias de Vida, dirigida pelos jornalistas Marcelo Aramis e Valquiria Vita, neta de dona Luci.
Sim, Valquiria resolveu eternizar no papel - e no formato digital - a rica história da avó, que em 30 de novembro de 2019 celebrou 80 anos. Toda essa trajetória dialoga, lógico, com o mote da empresa: Quão valioso seria poder ler a história dos seus bisavós?
- Ela tem uma super memória. Pense em uma entrevistada que contou tudo - revela Valquiria.
Esse “tudo” rendeu um e-book de 52 páginas, recheado com dezenas de fotografias, depoimentos, confissões e histórias pra lá de curiosas, conforme você confere nos trechos reproduzidos abaixo.
- As quase 10 horas de entrevista, espaçadas em cinco encontros, foram momentos de prazer, não trabalho. Em todos os meus anos como repórter, nunca havia entrevistado alguém com tamanha memória e capacidade de descrição de detalhes. Foi emocionante ouvir a história de minha avó, quase como assistir de camarote a um longo filme - escreve a jornalista ao final do perfil.
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A Legado - Histórias de Vida chega chega como uma empresa de curadoria de memórias pessoais, englobando biografias, perfis póstumos, histórias de casais, de famílias e trajetórias de empresas.
As modalidades vão desde registros com apenas um entrevistado, até textos elaborados a partir de relatos de 10 fontes. Ao final, o trabalho é entregue em formato de e-book, que também ficará disponível em um servidor online próprio (para ser acessado por futuras gerações), junto ao site da empresa, com a possibilidade de ser impresso.
- Toda história de vida vale ser registrada. A Legado foi impulsionada pelos acontecimentos de 2020, quando percebemos, com mais clareza, que os entes queridos podem partir do dia para a noite. E com eles, muitas memórias de família acabam se perdendo - complementa Valquiria, que juntamente com Marcelo Aramis mantém a TXT Comunicação.
Mais informações: (54) 99246-8383 e (54) 99711-4447 ou pelo www.historiasdevida.com.br.
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Alguns trechos
:: Luci Lea nasceu em Ana Rech, em 30 de novembro de 1939. Veio ao mundo em casa, com a ajuda de uma parteira, durante um período conturbado do mundo: apenas dois meses após o início da Segunda Guerra Mundial. O nome foi escolhido pelo pai, Albino Basso. “Em Ana Rech, existia uma família muito rica que tinha duas filhas: uma se chamava Luci e a outra Lea. Ele gostou dos nomes e juntou os dois.”
:: Quando tinha cinco anos, Luci e a família se mudaram para um engenho de corte de pinheiros, no interior de Vacaria. “Era maravilhoso morar no campo, silencioso. Foi a melhor eṕoca da minha vida. Tinha liberdade, tinha vaca, tinha porco, tinha galinha, tinha rio que passava atrás da casa. Era viver praticamente com a natureza.”
:: Aos 13 anos, Luci aprendeu com a mãe o ofício que desempenharia por toda a vida, a costura. “Terminei o Ensino Primário, em segundo lugar na minha turma, e comecei a trabalhar com a minha mãe. Ela tentava me ensinar o corte e eu não conseguia aprender bem, porque era tudo fracionado e eu não tinha conseguido aprender frações na escola.”
:: Com muito esforço, conseguiu convencer a mãe a deixá-la ir para Caxias com uma tia num sábado. “Eu queria aventuras, sempre fui de aventuras… Queria ser para frente, queria agitar. E naquele tempo, agitar era vir para Caxias, ver futebol, ir nas festas de colônia...”. Naquele dia que mudaria o rumo da sua vida para sempre, ela assistiu um programa da Rádio Caxias durante a manhã (o rádio, naquela década, tinha auditório no estúdio). Depois do almoço, foi com o tio para o estádio Alfredo Jaconi. “E do meu lado esquerdo sentou um rapaz que eu não conhecia. Um rapaz normal, não servia para bonito nem para feio. Começamos a conversar. Eu puxei papo, ele não puxou, imagina! Aí fiquei sabendo que ele era o filho da dona da pensão onde a minha tia Maria morava. O nome dele era Domingos Gedoz.”
:: O noivado aconteceu no dia de Natal de 1957, data que ficou gravada nas alianças. Os pais de Domingos, Florentino e Clementina, foram a Flores, onde presenciaram o filho pedindo a mão de Luci em casamento antes da ceia. A data foi marcada para um pouco mais de um ano depois: 3 de janeiro de 1959. Leda (irmã) quis fazer o vestido, inspirada em um modelo que viu numa revista. “Eu achei o vestido lindo, me achei uma noiva linda! Ela costurou as mangas de renda no meu próprio corpo. Eu pesava só 54 quilos.”
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