O escaldante verão de 45 anos atrás ficou marcado por um protesto lembrado até hoje por quem participou ou testemunhou. Foi em 22 de março de 1980, após centenas de famílias passarem dias sem água em diversos bairros de Caxias do Sul.
Moradores dirigiram-se ao chafariz da então Praça Rui Barbosa (Dante Alighieri) para lavar roupa e dar banho nos filhos pequenos, o que logo se transformou numa grande “festa” para as crianças.
Edições do Pioneiro e do Jornal de Caxias abordaram o problema de abastecimento na cidade, mas o destaque foi mesmo para a inusitada manifestação.
Pioneiro de 26 de março de 1980 fez uma comparativo da situação já no título“ Faltou água nos bairros, sobrou água no chafariz”:
“A falta d’água, muito pouco esclarecida em determinados bairros da cidade, provocou de parte dos moradores desses bairros um protesto, realizado no último sábado, que teve por cenários diversas ruas do centro. Empunhando cartazes onde estavam suas reivindicações, os moradores dessas vilas dirigiram-se até frente ao edifício onde reside o prefeito, lá permanecendo por algum tempo aos gritos de água, água, água... Após essas reivindicações, os moradores dirigiram-se ao chafariz da Praça Rui Barbosa, onde as mulheres aproveitaram para lavar a roupa de semana, e as crianças tomaram o tão sonhado banho, que há muito havia sido esquecido. Espera-se que tais problemas sejam resolvidos, para que o hábito não se torne uma constante”.
Já a edição do Jornal de Caxias de 29 de março de 1980 destacou:
“A falta de água por um período superior a 10 dias no bairro Ipiranga levou os moradores a uma reação bastante criativa: utilizar o chafariz como ponto para lavar roupa e banhar as crianças, em meio ao forte calor que se fazia sentir. A manifestação foi pacífica, sem interferência policial”.
ÁGUA BENTA
O episódio no chafariz também foi abordado de forma bem-humorada na lendária coluna “Pelotaço” assinada pelo jornalista Guiomar Chies no Pioneiro, entre os anos 1970 e 1980. Na edição de 19 de novembro de 1980, 10 meses após o ocorrido, Chies destacou:
“Tem bairro brabo com o Samae. A água nunca chega. Ameaçam ir novamente ao chafariz da praça para lavar roupa. Dizem até que alguns têm contato com a água só quando vão à igreja, quando molham o dedo na água benta para o sinal da cruz”...