Símbolo do bairro Santa Catarina, o centenário casarão que abrigou as famílias Andreazza e Tonet - e posteriormente a Cantina Pão & Vinho - retorna em breve consolidando um projeto que mescla memória, preservação e inovação. Está prevista para novembro a entrega do local revitalizado à comunidade, valorizando seu passado por meio de um novo espaço enogastronômico.
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Toda essa história começou em meados de 1914, quando o descendente de imigrantes italianos José Andreazza construiu, em pedra e alvenaria, o imóvel que receberia a produção de vinho e a numerosa família - formada pela esposa Luiza Barbisan e pelos 10 filhos: Pedro, Guerino, Inês, Rosalina, Hegínio, Guilhermina, Ettore, Zélia, Raimundo e Alfredo.
Filha de dona Guilhermina Andreazza e do dentista Aparício Postali - e neta de seu José -, a professora Suzana Postali Fantinel, 80 anos, conhece toda essa trajetória em detalhes. Integrante da quinta geração dos Andreazza, Suzana foi a responsável pela tradução do livro “Feral de Vita Migrantina", escrito pelo tio Hegínio Andreazza em dialeto vêneto, recordando os pioneiros da família e as vivências na casa e no "arrabalde".
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Conforme ela, o tataravô, Giuseppe Andreazza, era natural da localidade de Unigo de Piave, província italiana de Treviso, e migrou para o Brasil em 1878, com a esposa Ana Poloneatto e os oito filhos. O grupo de 16 pessoas, incluindo outros seis parentes, fixou-se no antigo Travessão Thompson Flores (9ª Légua), atual bairro Nossa Senhora da Saúde, onde todos dedicaram-se ao comércio de produtos coloniais e à vitivinicultura.
O construtor
Neto de Giuseppe e filho de Pietro (Piero), José Andreazza nasceu em 6 de agosto 1882 e, em 1904, aos 22 anos, casou-se com a jovem Luiza Barbisan. Conforme explica Suzana, os avós residiram com a família do patriarca Giuseppe em Nossa Senhora da Saúde até a chegada do sexto filho.
— Eram tantos no local que até foi chamado de “O Vaticano” — revela.
Posteriormente, com o crescimento do comércio de vinhos, seu José adquiriu um terreno localizado no antigo Arrabalde de Santa Catarina, próximo ao Arroio Marquês do Herval (Tega), onde deu início à construção da casa da família e de uma cantina para a produção da bebida.
— Foi onde nasceu a sétima filha, minha mãe Guilhermina, em 1915 — conta Suzana, que disponibilizou uma série de imagens de família para ilustrar essa viagem no tempo.
Na imagem que abre a matéria, os pais de Suzana, Aparício Postali e Guilhermina Andreazza Postali, próximos à cascata do Arroio Tega, com o casarão ao fundo, em finais da década de 1930. Acima, Aparício e Guilhermina com Suzana recém-nascida no jardim da casa, em 1940. Abaixo, os avós de Suzana, os pioneiros José Andreazza e Luiza Barbisan Andreazza.
Mudanças
Em meados dos anos 1920, com o crescimento do negócio, uma casa anexa surgiu, agregando-se a um cenário natural que incluía jardim, horta, pomar e parreirais. Foi ali, no distante e bucólico bairro Santa Catarina, que os Andreazza permaneceram até meados da década de 1940.
Nas imagens acima e abaixo, a família Andreazza junto a outro símbolo do passado do bairro Santa Catarina: a ponte romana, com dois arcos, do então límpido Arroio Tega. Na imagem acima vemos, à esquerda, Nelson Andreazza, Raimundo, Rozalina, Rosa e a matriarca Luiza (de preto). Sentados, Stefano e Zélia Andreazza Alberti, o filho José Alexandre Alberti, a menina Stela Alberti e Suzana Postali Fantinel. De pé, à direita, dona Guilhermina. O menino com a mão no rosto é Pedro Luís Andreazza, irmão de Nelson.
Detalhe: atrás, vemos a caminhonete com a marca "Andreazza Madeiras", usada pela empresa em Santa Catarina. Sim, nos anos 1930, seu José Andreazza e os filhos investiram em serrarias nos municípios catarinenses de Videira, Tangará e Campos Novos.
Morte em 1943
Localizada junto ao casarão da família, a vinícola de José Andreazza fornecia a bebida também a consumidores de Porto Alegre, São Leopoldo e Montenegro. O vinho, engarrafado e acondicionado em barris, era transportado em carroças até a Estação Férrea, onde era despachado nos vagões.
José Andreazza faleceu aos 60 anos, em 28 de janeiro de 1943. Quatro anos após a morte do comerciante, o duplo imóvel foi adquirido pelo senhor Angelo Tonet, que ali morou com a família a partir de 1947.
Na reprodução abaixo, a notícia do falecimento de seu José Andreazza, publicada no jornal "O Momento" de 30 de janeiro de 1943.
Nome de rua
José Andreazza nomeia uma rua do bairro Santa Catarina, localizada numa antiga área pertencente ao comerciante e próxima ao casarão da família.
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