Ele foi alfaiate, presidente do Esporte Clube Juventude entre 1933 e 1934, membro da Liga de Defesa Nacional durante a Segunda Guerra Mundial, entre outras atuações de relevância comunitária. Mas foi dedicando-se ao próximo, em especial aos mais velhos e desamparados, que seu José Angelo Aloise teve seu nome eternizado na galeria de personalidades da área assistencial de Caxias do Sul.
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Mentor e grande impulsionador da campanha pela construção do Lar da Velhice São Francisco de Assis, seu Aloise nasceu na Itália em 19 de setembro de 1890. Natural da comuna de Morano Calabro, na província de Cosenza, o jovem chegou ao Brasil em 1912, aos 22 anos, estabelecendo-se inicialmente em Porto Alegre. Atuando como alfaiate, migrou para Caxias do Sul em 1920, onde deu continuidade ao ofício. O trabalho na Alfaiataria Aurora mesclava-se a uma atenção especial à comunidade carente da época, visto que não suportava a dor de ver pobres e anciãos dormindo ao relento ou mendigando pelas ruas da cidade.
Sobre esse início, o jornalista José Machado detalhou um episódio curioso na edição do Pioneiro de 27 de maio de 1972, poucos dias após Aloise falecer:
Em 1947 existia em nossa cidade um mineiro que foi aluno da mãe do ex-presidente JK (Juscelino Kubitschek), chamado Soter Neves. Ao vir para Caxias, trouxe consigo a Ordem Terceira de São Francisco de Assis. Aqui, ele fundou a Ordem e, entre outros tantos, um que se associou foi o nosso José Angelo Aloise, que foi presidente até pouco mais de dois anos atrás (1970). Para os associados, eles fizeram um jazigo perpétuo no cemitério da comunidade e passaram a fazer caridade. Uma dada vez em que Aloise visitava um dos associados, que morava atrás do cemitério, encontrou um velho caído na sarjeta. O pobre homem disse que não tinha onde morar e há três dias não comia. Foi o estalo. A ideia de dar um teto e comida aos velhos pobres nasceu na cabeça do idealista.
A partir daí, Aloise formou uma comissão responsável por dar início à campanha de construção do Lar da Velhice. Após uma intensa peregrinação, a doação do terreno, “próximo ao estádio do Flamengo (SER Caxias)”, foi oficializada pela prefeitura em 1952. O abrigo começou a ser construído em 1953, mas só seria inaugurado 12 anos depois, em 16 de maio de 1965.
Conforme o texto de 1972, a campanha em prol do Lar foi de luta e sacrifício junto à comunidade caxiense:
Enquanto o sonho não se realizava, José Angelo Aloise buscava com sua equipe gêneros alimentícios no comércio para saciar a fome de pobres e velhos. Em sua própria casa, semanalmente, durante os 12 longos anos em que se construía o Lar, eram distribuídos ranchos para os pobres - e que eram mais “gordinhos” nas vésperas do Natal.
Na foto abaixo, José Angelo Aloise (C), os membros da Ordem Terceira da Penitência de São Francisco de Assis e as colaboradoras da Paróquia de Santa Tereza nas escadarias da Catedral, nos anos 1960.
A Alfaiataria Aurora
A Alfaiataria Aurora funcionou inicialmente na Avenida Júlio, no prédio da antiga Loja Paris (entre a Visconde e a Dr. Montaury). Posteriormente, mudou para uma casa de madeira na Pinheiro Machado, 1.825, ao lado do Cine Ópera, onde seu Aloise também morava.
O cotidiano em meio casimiras, lãs e outros tecidos também era pautado por homenagens. Em 1963, o Esporte Clube Juventude, em seu cinquentenário, outorgou-lhe o título de Sócio Benemérito, enquanto a Câmara de Vereadores concedeu-lhe o título de Cidadão Caxiense.
Família e morte
José Angelo Aloise era casado com Leonilda Mussoi Aloise, com quem teve apenas um filho, José Roque Aloise – também atuante junto ao Lar da Velhice. Roque e a esposa, Edite Elisabetha Aloise, deram a seu José Angelo seis netos: Pedro Gilberto ((abaixo, com os avós, em 1959), Paulo Ricardo, Ana Maria, Maria Helena, Mariangela e Laura Maria.
José Angelo Aloise faleceu em 23 de maio de 1972, aos 81 anos, e seus despojos estão guardados ao pé do altar da capela do Lar da Velhice São Francisco de Assis, onde ele residiu até morrer.
Matéria do jornal Correio Riograndense de 8 de julho de 1972, assinada por Evaristo Dall’ Alba, detalhou a atuação de Aloise no fim da vida:
Até a idade de 78 anos dirigiu o asilo e fez cerrada questão de passar lá seus derradeiros anos, afirmando: “junto aos meus irmãos mais velhos”. As palavras proferidas pelo assistente da Ordem Terceira no sepultamento de José Angelo Aloise resumem sua vida e sua obra: “Aqui temos um homem que, esquecendo-se de si mesmo, passou a viver para os outros”.
Na imprensa
Nas reproduções a seguir, matérias de jornal destacando a saga de José Angelo Aloise. Abaixo, um registro de 28 de novembro de 1958 do jornal Panorama, em que Aloise é eleito o "Homem de Mérito do Mês". Na sequência, as reportagens de 1972 dos jornais Pioneiro e Correio Riograndense, publicadas na sequência de seu falecimento.