Há quem diga que, na vida, é tudo uma questão de perspectiva. Há aqueles que têm uma visão mais prática e objetiva das situações, outros conseguem contemplar os dias e encontrar algum tipo de transcendência. As formigas e as aranhas, por exemplo, têm formas diferentes de lidar com o mundo.
As primeiras trabalham incansavelmente coletando folhas, galhos, animais vivos ou mortos, enfim, todo tipo de detritos que encontram na natureza. Saem em fila indiana, concentradas, e levam tudo o que conseguem encontrar para dentro do formigueiro. Já as últimas têm um modo mais interiorizado de conseguir sua subsistência. Produzem e montam suas teias e ficam no aguardo de que a divina providência traga seu alimento.
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Dá para dizer que alguma delas está errada? Só a partir do próprio ponto de vista. É a nossa lente particular que nos faz ter mais afinidade com uma ou outra maneira de perceber e existir no mundo.
O filósofo inglês Francis Bacon, considerado o fundador da ciência moderna, comparava as formigas aos alquimistas e médicos da época, que passavam de cidade em cidade vendendo elixires e poções mágicas com materiais extraídos da natureza, e comparava as aranhas aos filósofos que propunham teorias totalmente baseados no pensamento e na razão. Ele foi o primeiro a escrever sobre a necessidade de fundir os dois mundos – observar e extrair exemplos da natureza e, através da razão e de experimentos, comprovar as teses imaginadas. Dizia que o ideal era copiar as abelhas que saem em batalhões alados para extrair matéria-prima da natureza e dentro da colmeia transformam essa matéria no néctar que é o mel. Criou, assim, o revolucionário método científico.
Pode, também, ter dado uma pista de que o equilíbrio é a melhor forma de contemplar a realidade. Mas essa é apenas uma interpretação, uma percepção.
Ainda assim, acredito que seria muito bom se conseguíssemos extrair o melhor da razão e da sensibilidade, sem precisar optar por nenhuma delas. Se nos permitíssemos refletir em profundidade, mas sem esquecer aquilo que nos toca verdadeiramente, teríamos dias mais leves e felizes. Como na época do colégio, em que as aulas de educação física caíam numa segunda-feira e serviam de motivação para irmos bem felizes à escola, apesar das aulas de matemática.