Ando encantada com as fotografias de passarinhos que o Charles publica nas redes sociais. Além das melhores uvas e da família com olhos mais bonitos, ele também vive rodeado por espécies de aves bem fofas e faz questão de mostrá-las. Por falar em fofura, a Grazi mandou por Whats o vídeo de um passarinho comendo mamão tranquilamente, sobre a mureta de uma varanda na casa da sogra, em Brasília. A Clara, filhinha dela, ficou entusiasmada ao assistir à cena, mas depois queria comer justamente a fruta que o pássaro degustava. Deu até uma choradinha por causa disso, um amor.
O Marcos, meu vizinho, que faz fotos belíssimas de constelações, satélites e planetas, também registra “amiguinhos emplumados”. O Leo postou um vídeo com sabiás bem faceiros filmados no lote da casa ao lado, com uma câmera profissional, uma graça. Um amigo me disse que um sabiá laranjeira comendo cáqui de chocolate era a ideia que ele tinha de Caxias do Sul e considerei a impressão muito espirituosa, tal qual seu interlocutor. Por falar nisso, vi (e achei o máximo!) uma artista plástica renomada levar para casa um cáqui, na saída de uma festa campestre, só para poder desenhá-lo.
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Nem sabia que tanta gente gostava de passarinhos e só descobri porque eles começaram a desfilar na minha linha do tempo. Adorei constatar que a gente não faz ideia do que desperta o interesse alheio. Podem ser aviões, pássaros, postais ou pequenas antiguidades: sempre tem alguém contemplando algo, guardando objetos cheios de lembranças como se fossem tesouros.
E, na verdade, esse valor transcende o objeto em si. Imagino que não seja apenas o pássaro, mas o momento de observação cuidadosa que rodeia a experiência, o registro preciso do instante eternizado. A importância de algo – exceto fatos históricos, que também elegemos saber mais ou menos – reside basicamente no interesse que temos sobre ele.
Um cartão cheio de amor e verdade costuma ser mais valioso do que o presente. Uma comidinha preparada com afeto pode valer bem mais do que a receita em si. O silêncio compartilhado que não incomoda pode ser um balizador incrível de cumplicidade e conexão. As grandes coisas só têm esse tamanho porque são simples e verdadeiras, porque carregam um olhar de ternura e afeição, porque mostram ao mundo um pedacinho daquilo que nos emociona – mesmo que não faça sentido para mais ninguém. A alegria da vida reside em reverberar as pequenas emoções cotidianas, na esperança que encontrem eco e, na melhor das hipóteses, façam alguém sorrir à distância.
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