Resolvi aprender a nadar para começar o ano me desafiando. Escolhi um programa que promete ensinar qualquer um a mover-se sobre a água em 16 aulas e fui incrédula para meu primeiro dia na piscina.
– Pra que tu vais resolver aprender a nadar agora, guria, com essa idade? – perguntou-me minha irmã, espantada ao saber que eu tinha acabado de me matricular em uma aula de natação.
Logo eu, que nunca fiz questão de saber. Logo eu, que não tenho vergonha de contar que não sei. Ao menos gosto da ideia do aprendizado contínuo e desconsiderei a sentença "com essa idade", porque sou uma otimista convicta e acredito no poder de transformação que temos dentro de nós, aos 18 ou aos 80 anos.
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Para resumir: resolvi aprender a nadar para começar o ano me desafiando. Escolhi um programa que promete ensinar qualquer um a nadar em 16 aulas e fui incrédula para meu primeiro dia na água. Perguntei ao professor: qual é o perfil de quem frequenta a aula? Sincero, respondeu-me: são pessoas que não aprenderam a nadar antes. Rimos. Resultado: fiz a terceira aula e já nado bonitinho de costas. E conto pra todo mundo com a mesma empolgação que uma criança deve contar (até sobre esse mesmo tema) para os seus pais. Cada qual com seu tempo, né? E tomo isso como metáfora para a vida.
A partir dessa minha experiência, tenho pensado muito sobre primeiras vezes, sobre qual tinha sido a última vez que eu tinha feito algo pela primeira vez. A excitação da descoberta costuma marcar para sempre, mas à medida que o tempo vai passando, nos acostumamos com a relativa estabilidade, e as novidades ficam cada vez mais raras e distantes na memória.
Quem não lembra o frio na barriga do primeiro dia de aula, a curiosidade no primeiro dia na empresa, a primeira vez que foi conhecer os pais da pessoa amada?
O primeiro beijo, a primeira vez recíproca que ouviu "eu te amo", a primeira palavra que conseguiu ler ou escrever? A primeira vez que viu uma girafa, que fez carinho numa ovelha ou ouviu o filho chamar? A primeira vez que conseguiu andar de bici sem rodinhas, com os pais bobos assistindo à cena? As primeiras cicatrizes, o primeiro dente a cair, a primeira grande decepção?
Só que os anos passam e a gente percebe que já amou e teve coração partido, já aprendeu a dançar, já passou por um monte de modalidades esportivas, já circulou por diferentes turmas de amigos, já visitou lugares incríveis e péssimos, experimentou comidas exóticas, já mudou a cor do cabelo, mudou de cidade, mudou de casa, mudou de vida. Mudou. O que mais pode ser diferente, depois de uma certa idade? A parte boa é que não existe uma resposta padrão: pode ser tudo igual, para quem está satisfeito com essa normalidade, ou pode ser um pouco diferente, para quem quiser se arriscar a sentir o frio na barriga, pelo menos mais uma vez.