Em uma daquelas imersões malucas na internet — em que a gente começa lendo um artigo científico sobre Roland Barthes e termina, horas depois, na nova formatação do BBB 20 —passei pelo perfil de uma digital influencer e, entre roupas esvoaçantes e maquiagens importadas, ela tinha postado uma foto linda, com uma frase que fez muito sentido: o pôr do sol mais bonito é aquele que você está assistindo.
Aí não faz diferença se o espetáculo natural é visto de uma das Cinque Terre — imbatível, pra mim —, do Guaíba, dos campos na Rota do Sol ou da sacada do apartamento dos pais: importa o momento, a contemplação, a noção do valor que a gente dá para o presente. Se quisermos, é possível agradecer por quase tudo.
Tenho tido semanas difíceis —ou cheia de aprendizados, como certa vez uma pessoa especial me ensinou —, que tiveram até reflexos físicos, com meu corpo respondendo negativamente às dificuldades para lidar com alguns problemas. Mas, antes tarde do que mais tarde, me dei conta que devia prestar atenção naquilo que importa de verdade —o clichê dos clichês, eu sei.
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Um amigo querido que não via há tempos me convidou pra almoçar e a recepção no restaurante foi divertida, com o dono perguntando por que eu não tinha ido mais lá. Rimos, conversamos e matamos a saudade. Na noite, ao levar um amigo para casa, paramos em um café para prolongar a conversa, a escuta, a atenção. No dia seguinte, encontrei uma amiga que adoro, com quem renovo minha fé nas pessoas e quase morro de rir. Noutra manhã, fui conhecer um negócio local e recebi uma sugestão de pauta linda e despretensiosa, que vai dar visibilidade a um projeto bem fofo. Jantei com outro amigo, dividimos frituras, histórias e ele falou de uma fórmula que tem adotado para usar quando falam mal de algo ou alguém. Viu que a fulana engordou? Viu que o fulano está namorado alguém bem mais nova? Ele responde: e daí? Amei.
Clonaram um dos meus cartões de crédito e operadora foi bastante solícita no ressarcimento dos muitos reais gastos com uma companhia aérea de Tel Aviv e uma loja de produtos para escritório. Jantei com colegas de trabalho, só para celebrar o resultado superlegal de um projeto. Festejei o aníver do meu pai, com quem tenho a alegria de conviver com intensidade, em família, envolta em amor e cuidado.
Ganhei abraços demorados, recebi reiki, massagem e acupuntura. Fiz exercícios e terapia. Ouvi “eu te amo”, “tenho muito orgulho de ti”, “tu és a pessoa mais gentil do universo”, “que bom que conversei contigo”, “tenho sobrevida porque tu me enxergou”. Pedi desculpas, me emocionei, demonstrei interesse, aceitei que pessoas vêm e vão e, se quisermos, podemos ficar só com o melhor delas.
Focar no melhor de nós, tal qual a contemplação de um pôr do sol qualquer, é imprescindível. Senão, haja mimimi para dar conta dos problemas, que não serão menores, nem mais simples. Aprendizado, mesmo, é saber que precisamos provocar os encontros que equilibram nossos dias, manter por perto as pessoas que enchem nosso coração e agradecer por termos um monte de pequenos grandes motivos que nos ajudam a seguir.
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