Voltei de férias faz uns 10 dias e me dei conta (de novo, claro) de como faz bem nos distanciarmos da rotina de vez em quando. E como, depois disso, fica mais fácil e leve encarar as tarefas do dia a dia, sempre com a certeza de que, de alguma maneira, os problemas serão solucionados. Falava sobre isso com uma colega que passa pela mesma situação, e ela brincou que a maioria das pessoas com quem convive no trabalho não entende o que está acontecendo, nem por que ela se reapaixonou pelo que faz. Contou que tudo flui, sente orgulho dos projetos e está animadíssima para os próximos (e infindos) desafios. Se não tivesse saído, provavelmente estaria na espiral problema-solução-entrega e com pouco tempo de aproveitar o percurso resolutivo.
Sustento a ideia de que não dá para deixar o trabalho consumir nossas forças, estressar e desestabilizar outras áreas, mas também sei o quanto é difícil colocá-la em prática. Basta olhar ao redor e ver como as pessoas parecem estar no limite, em como o ano —ou o mundo — exige sempre mais.
Ainda assim, podemos tomar o bicho-da-seda como metáfora. O ciclo do inseto vai da eclosão do ovo a transformação da lagarta (dividida em cinco fases) em mariposa. Quando cresce até uns 8 centímetros e não come mais, ele passa a tecer o fio. Num movimento constante da cabeça, produz um casulo em volta de si, a partir de um fio contínuo de cerca de 1m20cm. Durante um tempo, dedica-se exclusivamente a essa atividade, até metamorfosear outra vez.
Mas, ao evocar a imagem de um bicho-da-seda, é natural que a gente faça remissão ao próprio casulo, não à lagarta em si. Curiosamente, é o bicho que expele o fio, constrói o casulo e nele se aloja. A capacidade transformadora está no inseto, não na casinha provisória, mas ao pensarmos no inseto pensamos no invólucro.
E não há similaridade com a nossa realidade? Costumamos empreender força e energia para construir projetos, cases de sucesso e, de alguma forma, acabamos sendo definidos exclusivamente por aquilo. Mas somos multifacetados e aprendemos, ao longo dos anos, a fazer as metamorfoses necessárias. É fundamental, então, que ao olharmos para o outro tenhamos essa ideia clara. Melhor seria não definir ninguém só pelo que ele parece. Sempre vale rever a percepção – e de forma mais generosa. Não seria incrível se fizessem isso conosco?