Ouvi histórias idênticas vindas de duas amigas minhas, que são muito diferentes entre si. Pois bem, a primeira estava empolgadíssima com um quase namorado, que a admirava por ser forte, determinada, não ter medo de ir atrás dos objetivos, ser simpática e ter boa convivência com os demais. A outra gosta muito de estudar e se aprimorar em diversas áreas de conhecimento, é uma mãe dedicada que investe na qualidade de vida, ao mesmo tempo em que batalha para prover o sustento ao menino sem a ajuda do pai dele. O quase namorado estava feliz com todo esse empenho, com a prosperidade profissional e com a distribuição do tempo da amada.
Mas, passadas algumas semanas, as duas tiveram a mesma experiência desagradável: começaram a ser criticadas justamente por aquilo que, em um primeiro momento, atraiu os rapazes à vida delas. A determinação de uma deveria dar lugar à tranquilidade, em que ela não precisasse “se esforçar tanto”. A disposição para o esporte deveria ser sublimada em nome de programas em família. As gargalhadas e o jeito meio moleque deveria dar lugar a uma postura mais comedida. A outra, deveria abrir mão da carreira, não deveria investir em si ou pensar em voltar a estudar – afinal, a expansão intelectual não estava nos planos do pretendente.
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Por ouvir as histórias com poucos dias de distância, fiquei preocupada com uma espécie de dificuldade (acho que é crescente) generalizada em aceitar a pessoa como ela é de verdade em detrimento do que gostaríamos que ela fosse. Ou seja, basicamente, não conseguimos lidar com as imperfeições alheias – não sou uma especialista no assunto, mas para mim isso tem a ver com não conseguirmos lidar com as nossas próprias dificuldades e as projetarmos nos outros. É como se não quiséssemos que as pessoas tirassem as máscaras que nós mesmos colocamos nelas.
A idealização só serve para nos decepcionarmos. Que culpa os outros têm de não corresponderem às expectativas que criamos sobre eles? Vivemos em uma época em que está muito mais fácil apontar os defeitos dos outros do que olhar para si. Mais difícil entender nossas limitações e bem mais fácil culpar os outros pelos nossos insucessos. Só que, como versa Mario Quintana em uma frase que eu adoro “o pior dos problemas da gente é que ninguém tem nada com isso”. Cabe a nós sabermos lidar com eles – melhor, com a nossa própria maneira de aceitar, receber ou repelir o que a vida nos traz.
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