Visitei há pouco a exposição Saramago: Os Pontos e a Vista, em cartaz no Farol Santander Porto Alegre. O tema, por si só, já parece atraente, mas uma observação sem pressa da mostra revela uma série de breves lições de vida enquanto se conhecem fragmentos da vida do escritor português. E nem é preciso ser um especialista na obra dele para se encantar.
Trata-se de uma exposição em primeira pessoa, em que ele relata histórias e pensamentos íntimos, seja acerca de seu nome, seja para exaltar o amor pela última mulher, Pilar del Río. Por vídeos breves e em diferentes suportes, mostra, também, um escritor indissociado de sua obra, fiel às suas convicções de vida, amor e morte. Essa última foi uma das mais significativas, para mim.
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Questionado se tinha medo da morte, Saramago respondeu que não, mas que sentia por não saber se viveria o suficiente. Explicou que a proximidade da finitude, mais do que a finitude em si, traz uma dura sentença: precisamos nos deparar com o que fizemos, o que deixamos de fazer e o que gostaríamos de ter (ou não) feito. E com base no tempo que resta, controlando a ansiedade, tentarmos equilibrar as coisas.
Aí, numa metáfora cheia de poesia, disse que gostaria de ser uma árvore, porque ela cresce, floresce e dá frutos, se puder, e dura o tempo que tiver que durar: sequoia é enorme e pode viver mil anos, oliveira mais de cem, e cada uma delas cumpre a sua função. Simples assim.
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Outra pensata interessante dos últimos dias:
Presenciei uma conversa sobre esporte, sobre colocar em dúvida a pontuação do adversário, quando ele diz que a bola bateu dentro da quadra, por exemplo.
Vale a pena se relacionar com alguém que blefa sobre a situação, só para ter algum tipo de vantagem? E, no caso de quem sempre duvida da afirmação “a bola foi boa”: vale a pena ter por perto alguém que não acredita em você? Não é mais -fácil mudar de adversário? Aqui, não se trata apenas de esporte: troque o contexto e descubra se há um sentido nele.