Tenho uma amiga que costuma frequentar baladas LGBT+ em diversas cidades. Gosta da música dançante e do ambiente amigável, onde desejo anda junto com respeito. Parece básico, mas infelizmente não é.
Pois numa dessas festas mundo afora minha amiga descobriu que, depois que os homens héteros começaram a frequentar o espaço – justamente por causa da música dançante e do ambiente amigável –, o lugar ficou menos amistoso. O respeito acabou e começou a preocupar os frequentadores habituais. Chegaram a pensar em uma forma de bani-los, porque só passar vergonha não seria suficiente. Não sei como a história se desdobrou, mas sinto em ver muito homem sem noção que não sabe levar um fora – aí, ou tenta pegar a mulher a força ou tenta revidar e xingá-la de “feia, gorda, metida, piranha” e por aí vai.
Aqui em Caxias, por exemplo, a parede da Level exibe um cartaz importante, lembrando que “não é não”. O óbvio também precisa ser dito. Desrespeitar o “não é não” passa longe de ser um déficit cognitivo, é um problema de caráter mesmo.
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Na natureza, as libélulas da espécie Aeshna juncea se jogam no chão em pleno voo e se fingem de mortas para enganar machos que tentam “assediá-las” (não sei qual seria a palavra correta). Quando eles vão embora, elas “renascem” – a encenação os afastou em 60% dos casos, de acordo com um pesquisador da Universidade de Zurique.
Como as mulheres não podem usar esse subterfúgio, são necessárias outras atitudes. Nesta semana, a Câmara de Vereadores aprovou um projeto de lei, de autoria de Denise Pessôa, que institui a política municipal para ações que visem à valorização de mulheres e meninas e de prevenção e combate ao machismo nas escolas do município. Ainda precisamos de leis para combater o machismo – o óbvio precisa (muito) ser dito.
São as atitudes machistas que fomentam uma escala de violência contra as mulheres que não diminui no país. No Brasil, 1,6 milhão de mulheres foram espancadas ou sofreram tentativa de estrangulamento e 22 milhões – quase quatro em casa 10 brasileiras – passaram por algum tipo de assédio entre fevereiro de 2018 e fevereiro de 2019, quando a pesquisa do Datafolha foi divulgada.
Ou seja, não há lugar seguro para nós, mulheres. É triste, é revoltante e chega a dar pena desses homens tão pequenos, que ainda não entenderam que a primeira casa onde estiveram foi o ventre de uma mulher.