Não costumo ver homens se explicando – sequer tendo que fazê-lo. E, quando optam por dar satisfação sobre alguma questão mais pessoal (ou de relacionamentos), costumam ser supervalorizados. Esse é, sim, um diferencial positivo para eles – Rodrigo Hilbert que o diga.
No nosso caso, é o contrário. Fátima Bernardes está separada há dois anos e volta e meia precisa comentar o assunto, como na recente entrevista concedida ao jornal O Globo, em que disse "Embora eu e William tenhamos sido muito discretos, as pessoas intuíram que foi ele que decidiu pela separação. Me colocaram na posição de vítima. E, no entanto, ninguém sabe quem deu o basta". William, claro, não precisa passar por isso. E estamos em pleno 2018. Pensem como era isso nos anos 1980.
A pré-candidata a presidência Manuela D'Ávila, em entrevista segunda-feira no Roda Viva, foi interrompida 62 vezes pelos entrevistadores, o que a fez falar durante apenas 40 minutos dos 90 de duração do programa. E não me refiro às posições política e ideológica de Manuela, mas à situação a que ela foi submetida, comum às mulheres nos dias de hoje. Para se ter uma ideia, no mesmo programa, Guilherme Boulos foi interrompido 12 vezes e Ciro Gomes, 8.
A prática de homens interromperem mulheres enquanto estão falando é tão corriqueira que existe até um termo para isso, manterrupting – uma junção de man (homem) e interrupting (interrupção). Esse termo tem origem em um artigo intitulado Speaking while Female (Falando enquanto Mulher, na tradução), publicado pelo The New York Times em 2015, de autoria de Sheryl Sandberg e Adam Grant. Na análise dos autores, é citado uma pesquisa feita por psicólogos da Universidade de Yale, que mostrou como senadoras americanas se pronunciavam bem menos que os colegas homens, inclusive os de posições inferiores.
E ainda tem quem chame de isso de mimimi.
Tipo o ministro do Turismo do Brasil, Vinicius Lummertz, que minimizou os casos de assédio protagonizados por brasileiros na Copa da Rússia. Pra quem não viu, ele afirmou que os vídeos machistas absurdos não foram tão graves, já que não "morreu ninguém".
É por isso que não podemos nos calar. Não dá para achar ok a colega ser interrompida frequentemente numa reunião, os amigos compartilhando esses vídeos preconceituosos da Copa, as mulheres insistindo em achar que são concorrentes em vez de aliadas. O caminho a ser percorrido é longo, já estamos andando há um bom tempo e seria lindo se pudéssemos reunir cada vez mais gente nessa caminhada.