É interessante perceber como qualquer lugar pode ser tomado como um microcosmo de tudo o que nos cerca. Anos atrás, ouvi de uma professora que a sala de aula era a representação, em menor escala, da sociedade. Agora, tomo como exemplo uma partida de futebol, já que tive essa ideia na terça-feira, na Arena. E não falo do jogo em si, mas de tudo — da chegada até a saída do estádio, com as interações possíveis.
As melhores e piores situações estão todas lá, condensadas. Antes de chegar ao estacionamento, começam a aparecer pessoas para ajudar a estacionar o carro na rua, muitas vezes em lugares proibidos. Todas garantem que não há vagas próximas ao campo e que elas vão cuidar do veículo — e ambas as sentenças são mentirosas. Quem nunca se deparou, no dia a dia, em algum metido a espertinho tentando enganar alguém para tirar vantagem?
Já no assento marcado para assistir ao jogo, observo uma menina que apoia os pés aonde outra apoia a cabeça, sem se tocar do incômodo que provoca. Precisa ser avisada que colocou os pés no lugar inadequado para recolhê-los, como quase todo mundo — e faz cara feia, como se tivesse razão.
Durante a partida, tem a parte engraçada: todo mundo sabe mais do que o treinador e do que os atletas que estão em campo. E gritam sobre as maneiras corretas de proceder. O juiz, quando marca faltas do adversário, não sabe apitar. Quando marca faltas em favor do time do coração, ninguém questiona a validade da decisão. Torcedores, volta e meia, desfilam hinos racistas. E há quem ainda banalize isso.
Não parece um desfile pelas redes sociais?
Por falar em redes sociais, os registros e poses no estádio são uma história à parte. Tem gente — pouca, bem diferente dos grandes shows, felizmente — que acompanha a partida por uma telinha de smartphone, já que prefere filmar a assistir o que está na frente. É muito legal ter a possibilidade de fazer registro, mandar para alguém que está longe ou demonstrar o orgulho do time para todo mundo. É a parte boa que supera as chatices — do estádio, do futebol ou da vida.
Basta um gol para que as pessoas se abracem como se fossem grandes amigas, ou um lance mais empolgante para desconhecidos trocarem impressões e palpites. Há uma cumplicidade compartilhada que, em alguns momentos, é bem legal.
Como na vida. A gente não acerta sempre, mas às vezes dá pra transformar um monte de pequenos — e chatos — acontecimentos — em vibração e alegria, que dura ao menos até o dia seguinte.
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