Não sei nadar e, por conta disso, pouco entro na água. Limito-me a ir apenas onde me sinto segura – em lugares mais rasos das piscinas, na beira de mares sem ondas ou buracos. Não tenho vontade de agir diferente. É uma atitude prudente, eu sei, que evita pequenos problemas e grandes emoções. Mas não se aplica para tudo – nem quero.
Acho um saco gente blasé, que não demostra emoção nenhuma, que foge de qualquer exposição de si (não me refiro, aqui, ao exibicionismo nas redes sociais. Falo de vida real). Que evita ligar quando tem vontade, abrir o coração, mostrar que está a fim, ou que se arrependeu, ou que quer recomeçar, não quer passar por cima do orgulho e evitar uma vida de erros. Há quem termine um relacionamento por bobagem e, por vaidade e para não pedir perdão, viva longe de alguém que queria por perto. Há quem prefira não dar bandeira sobre as borboletas que batem asas no próprio estômago. Há até quem diga que hoje é mais cool agir assim, como quem não se importasse.
Às vezes, tudo o que a gente precisa é se desarmar. Perceber que as situações fogem do nosso controle e que está tudo bem.
Implica aceitar o fato de que o amor é brega – e aí não dá para conciliar Odair José com João Gilberto. É só assim que ele liberta, acontece, pulsa. Com fotos cheias de coraçõezinhos, apelidos carinhosos ou músicas postadas na timeline. Com bilhetes espalhados pela casa, com cheirinho de café preto pela manhã, com cobertor partilhado na sala de tevê. Esse talvez seja o maior desafio do amor, do desejo de estar junto: sincronizar as expectativas, ajustar os desajustes, aprender a conviver convivendo. Errando, acertando, tentando aprender o melhor de si também a partir do olhar do outro. Como um lugar seguro, onde é possível entrar, testar os limites de até onde se pode ir. De ir além.
Há uns bons meses, Pedro avisou que estava se jogando – como se ele, montanhista e escalador, cheio de habilidades com terrenos e situações arriscadas, meio Jason Bourne, precisasse de um aval – e que não queria cair. E eu, que não gosto de altura nem de esportes radicais, incentivei. E ele a mim. Saltamos, cada qual com suas bagagens e intensidades, no tempo preciso. E o melhor: nunca estivemos em queda livre, porque rapidamente aprendemos a voar de mãos dadas.
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