Não lembro de o assédio contra as mulheres ter sido discutido com tanta ênfase em tantos espaços e quase ao mesmo tempo quanto nesta última semana. Desde a cerimônia de entrega da premiação do Globo de Ouro, o discurso maravilhoso da Oprah Winfrey – "quero expressar gratidão a todas as mulheres que sofreram anos de abuso, porque elas, como a minha mãe, tinham filhos para alimentar e contas para pagar e sonhos para perseguir. São as mulheres cujos nomes nós nunca iremos conhecer" –, com as atrizes vestidas de preto e os abusadores sendo apontados nas falas, tive a sensação, em uma das primeiras vezes na vida, de que o jogo começa a virar.
Assédio deve ser denunciado, abusador deve ser exposto. As hashtags #MeToo (eu também, em inglês) e #BalanceTonPorc (denuncie seu porco, em francês) são um exemplo disso.
Finalmente, o assédio passa a ser visto com gravidade que ele tem – embora uma Danuza Leão senil ainda o encoraje. Ou que personalidades francesas como Catherine Deneuve tenham publicado um artigo surreal no jornal Le Monde – "os homens têm sido punidos sumariamente, forçados a sair de seus empregos, quando tudo o que eles fizeram foi tocar o joelho de alguém ou tentar roubar um beijo" –, mostrando por que o feminismo é imprescindível.
Assédio não é flerte (flerte é divertido, porque sempre há duas pessoas interessadas) e não deve ser banalizado. E para mim parece bastante óbvio – mas o óbvio também precisa ser dito – que esse movimento não é contra os homens, mas contra os abusadores. Homens não só podem como devem ser aliados nessa luta pela igualdade de gêneros, pelo respeito mútuo.
Quem cresce em um ambiente em que homens ocupam posições de poder acaba tendo que conviver com isso e lançando mão de artimanhas para relativizar a violência cotidiana. Sim, aguentamos muita coisa.
A parte boa é que não precisamos mais aguentar. Felizmente, isso começou a mudar, não é algo a ser tolerado ou varrido para baixo do tapete. Time's up.