Há um mundo desconhecido ao nosso lado. Ou, ao menos, um mundo despercebido para a maioria. Um mundo que está próximo demais para ser ignorado, mas que preferimos seguir como se, de fato, ele inexistisse.
Fazemos festas-ostentação – às vezes mais de uma – e não nos damos conta do absurdo. E, não, o problema não é a festa (adoro, aliás, e acho das melhores coisas da vida poder reunir amigos para comemorar a existência, a união, o nascimento, a nova etapa). O que me incomoda é a ostentação mesmo. Essa pompa desnecessária que serve mais para mostrar aos outros do que significar o próprio sentimento.
E isso me parece um trágico sinal de que não nos damos conta desse tal “mundo desconhecido” que nos rodeia. Nós nos importamos em jogar na cara dos outros nosso poder de consumo, mesmo vivendo em uma cidade com 30 mil desempregados. Ou com xx moradores de rua. Ou com xx crianças fora da escola.
Instituições socioeducativas de fortalecimentos de vínculos travam batalhas diárias para conseguir verbas capazes de garantir uma vida mais digna a uma série de crianças em situação de vulnerabilidade social. Um trabalho fundamental, que o poder público costuma terceirizar, serve para que a sociedade do futuro seja mais igualitária. Uma obra que consiste em dar condições iguais aos diferentes, em afastar a meninada da criminalidade, ao atacar um problema antes dele virar maior. Trabalho de formiguinha, fundamental e difícil, mas que quase ninguém quer saber. É melhor fazer de conta que esse mundo não coabita o nosso. Seguimos jogando confetes e varrendo a sujeira para baixo do tapete.
Faço um paralelo: é como correr na esteira ao invés de correr na rua. As duas atividades movimentam as pernas e os pulmões, gastam calorias e condicionam o corpo. Só que em apenas uma delas o cenário muda e podemos (com sorte) começar a observar nosso entorno.