Feminismo foi eleito como a palavra do ano pelo dicionário da editora norte-americana Merriam-Webster's. Na obra, ele é definido como "a teoria da igualdade política, econômica e social entre sexos" e também "atividade organizada em prol dos direitos e interesses das mulheres". Quem acompanha as redes sociais deve perceber que existe uma confusão muito grande entre o conceito e quem faz pouco caso dele - da essência do feminismo à palavra em si. Há quem sequer reconheça a urgência da militância. E há quem queira falar e se atrapalhe - e aí o tribunal da internet é implacável.
É por essas e por outras que tenho simpatizado tanto com o tal "lugar de fala". Não, nem é meu espírito natalino aflorado e atento a diversas percepções sobre os acontecimentos - espírito esse, aliás, que deveria durar bem mais do que o período de retirar cartinhas nos Correios.
Para quem ainda não está familiarizado, lugar de fala é um conceito da teoria do discurso que surgiu como contraponto aos grupos que historicamente tiveram menos espaço para se expressar. Pode servir para perceber que o jeito como a gente fala acaba estabelecendo uma relação de poder e pode acabar reproduzindo machismo, racismo, homofobia, etc.
É uma espécie de limite que mostra que por mais que tenhamos determinadas experiências, nem assim temos a capacidade de falar por outros. É o fim da mediação: a pessoa que passa por um problema ou preconceito é quem reúne as melhores condições de falar sobre ele.
Sou contra radicalizações de qualquer tipo e adoro a ideia da pluralidade do discurso, de que a história muda a partir da perspectiva da qual é contada.
Conseguir colocar em prática esse conceito, em situações cotidianas, tornaria nossas relações muito mais respeitosas, com um entendimento maior entre os diferentes ( e até entre os nem tão diferentes assim). Mas, se tomarmos como medida de aplicação o uso do bom senso (todos têm, poucos usam) vemos que o caminho a ser percorrido ainda é longo.