Lembra aquelas brincadeiras de escola, quando a gente apostava corrida com os colegas e, às vezes, por mais que tentasse tirar os pés do chão, por mais esforço empreendido, não dava para chegar em primeiro? E batia uma leve tristeza e logo vinha uma vontade de se superar. E nós continuávamos a treinar...
E isso valia para jogos de videogame (perdoem-me, pois parei de jogar qualquer jogo eletrônico aos 10 anos), pular amarelinha, subir em árvores, decorar a tabuada ou ensaiar uma coreografia com as amigas. A gente não se contentava com nãos e persistia.
Quando os anos vão passando – e os nãos vão ficando cada vez mais usuais –, tenho a impressão que, muitas vezes, perdemos esse espírito de levantar, sacudir a poeira e seguir em frente, com o frescor necessário. Pode parecer ingenuidade minha, mas acho uma pena não conseguirmos manter nosso espírito leve diante das adversidades, pararmos de encarar as dificuldades como ensinamentos, como uma chances de melhorar a nós e – pretensiosamente – até os outros.
Dei-me conta disso – e de como somos ingratos – na noite de quinta, durante a premiação do Grammy Latino. A essa altura, vocês já devem saber que Despacito foi agraciado como o produto do ano da música latina (com quatro estatuetas) e os nossos conterrâneos do Yangos estiveram lá representando a música do Sul com muita propriedade, indicados na categoria melhor álbum de raízes brasileiras. Eles não trouxeram o prêmio para cá, mas eles só podiam ganhar ou perder porque já estavam lá. Isso já é muito!
E, assim como nossas corridas da infância, não podemos dizer que eles perderam. Foi inspirador demais ver os depoimentos dos guris da banda – Cristiano Klein, Tomás Savaris, César Casara e Rafael Scopel – felizes e realizados com a oportunidade de ir a Las Vegas participar da celebração. O quarteto instrumental sequer tinha gravadora e teve o disco Chamamé financiado pelos fãs, em uma vaquinha virtual. Querem vitória mais significativa que essa? Eles já devem ter encontrado muitas dificuldades pelo caminho, trabalham com cultura, um bem intangível, mas a certeza de que estavam construindo algo que dava sentido à vida deles, certamente sempre teve mais força.
Lindo é que agora eles podem, além de colocarem a indicação no currículo, inspirar histórias tão vitoriosas quando as deles, mas que, às vezes, ficam pelo caminho. Isso só acontece porque a gente para de sonhar, mas não devia.