Muito já comentei sobre os efeitos da atual conjunção entre Saturno e Plutão, com seus surtos cíclicos de autoritário conservadorismo e sombrias experiências de fim de mundo. Mas cabe lembrar do efeito de Júpiter na mesma conjunção, no caso raro de agora, uma tripla conjunção. Júpiter é o maior planeta do sistema solar, associado ao que expande e amplifica. Tradicionalmente chamado de Grande Benéfico, ele também costuma apontar caminhos para a solução dos problemas. E então: Júpiter será fermento no bolo amargo de Saturno e Plutão ou pode indicar um alento salvador ou curativo nessa crise? O gigante celeste se impôs no noticiário, tão logo houve, em abril, o primeiro encontro exato com Plutão – de um total de três neste ano.
Vejamos assuntos relacionados a Júpiter em nível coletivo: justiça, leis, Constituição, busca da verdade, conhecimento superior, instituições e hierarquias. Em nível mais pessoal, rege a moldura de visão, as crenças e a fé. Todos esses temas estão tensionados pelo efeito da união com o implacável Plutão. A conjunção se dá em Capricórnio, signo do realista e restritivo Saturno e onde se diz que Júpiter está em queda, ou seja, com seu tom benéfico e expansivo mais enfraquecido. Sim, o clima anda pesado para o legislador Júpiter. Como a verdade poderá triunfar nessa travessia entre mundos em demolição? E o quanto as crenças podem ser agravantes do presente caos?
De um lado, as instituições tentam vigiar o cumprimento das normas constitucionais (Júpiter) em meio aos anseios autoritários já comuns aos encontros entre Saturno e Plutão. De outro lado, afloram no coletivo narrativas (Júpiter) extremistas e cegas, de fundo emocional e ressentido (Plutão). Pulsões de ódio e outras emoções inconfessáveis encontram guarida em modernos fanatismos e radicalismos, legitimando os tiranos da vez. Assim, como fazer vigorar a lei, a razão e a verdade quando uma horda com sangue nos olhos prega valores enviesados? O que fazer quando uma turba ruidosa prefere idolatrar Darth Vader e a Estrela da Morte? Como lidar com uma sombra coletiva nutrida por convicções irracionais?
Muito se fala hoje em narrativas. Autoridades cínicas dizem e desdizem o que melhor lhes convêm. As redes sociais ajudam a propagar impunemente mentiras e distorções dos fatos, deixando a verdade (Júpiter) refém de escusos mecanismos de manipulação em escala industrial (Plutão). O problema se agrava quando certas crenças partilhadas por fanáticos ameaçam os direitos alheios, negando a democracia e até a vida. Nos efeitos possíveis das conjunções deste ano, Plutão pode conferir mais poder ao papel vigilante de Júpiter. Mas Júpiter também pode inflar as forças ocultas de controle do senhor dos mortos. Seja como for, essa potente interação planetária fará aflorar os bastidores do poder e da sociedade, numa purgação para corrigir rumos. Nada deve ficar igual.
Em meio a sustos e crises, perguntamos quando esse drama terá fim. Conjunções anunciam começos de ciclos que se desenrolarão no tempo, até outra conjunção ocorrer. Ainda pode demorar antes de os plutocratas largarem o osso da dominação oculta. A próxima conjunção entre Júpiter e Plutão só se dará em 2033, no auspicioso Aquário. No entanto, já em dezembro de 2020, Júpiter se junta a Saturno – e em Aquário. Outros modelos de mundo, no mínimo mais humanos e justos, terão que se desenhar. Por ora, lutemos por instituições fortes que nos defendam do ódio, da tirania e da estupidez.