O significado astrológico de Plutão em uma palavra: transformação. Em duas: morte e renascimento. O planeta que recebeu o nome do mitológico deus do mundo subterrâneo simboliza, nas palavras do astrólogo Stephen Arroyo, “a mais profunda força da Terra”. É a energia mais bruta da natureza, instintiva e inexorável, dada a promover cíclicos expurgos ou correções para que a vida continue, renovada. É a morte a serviço da vida, a escuridão a serviço da ampliação da consciência. Como neste 2020 o mundo atravessa um violento processo plutoniano, haja vista a conjunção com outros astros no céu, nunca é demais lançar luzes sobre esse arquétipo.
Na Grécia antiga, o deus das profundezas e dos mortos tinha o nome de Hades, que significa “invisível”. Por medo de invocá-lo, os gregos preferiam chamá-lo de Plutão – hábito seguido depois pelos romanos. Plutão quer dizer “o rico”, pois ele também presidia as riquezas guardadas nas entranhas da terra. De Plutão surgiram palavras como “plutocrata” (homem influente por sua riqueza) e “plutocracia” (governo dos ricos). Desde 2008, a presença do planeta de mesmo nome no material signo de Capricórnio tem enfatizado os plutocratas do capital e seu domínio sobre todas as esferas humanas. Governos se estruturam a partir dos desígnios egoístas dos mais ricos e poderosos. Mas o quanto esse estado de coisas favorece a expressão plena da vida?
E eis que uma invisível forma de vida, a serviço do deus da morte, abala a humanidade toda, de plutocratas a plebeus. Plutão também rege o oculto sintoma de desajuste que vai gerar uma necessária transformação curativa em qualquer organismo. Stephen Arroyo compara seu efeito a um processo de germinação: quando a força germinadora está pronta, a forma rígida da semente é destruída. E o autor faz uma analogia ao nível humano: “quando os velhos modelos e formas de vida são destruídos e eliminados durante um período plutoniano, a energia libertada por esta transformação (mesmo que sob forma de dor e profunda agonia) é a autêntica energia que nos alimentará e nos permitirá avançar para um novo desenvolvimento”.
Os encontros de Plutão com Saturno (outro arquétipo ligado a limites e cobranças de ajustes), como em 2020, sempre expressam um tom trágico. Pesquisador da relação entre fatos reais e configurações celestes, o filósofo Richard Tarnas chama os ângulos tensos entre Saturno e Plutão de “espasmos mortais da história”. Explica Tarnas: “As privações, as perdas e os duros trabalhos desses períodos pressionam os indivíduos e as sociedades a abandonar uma forma antiga de vida e adotar uma nova, mesmo que durante esses alinhamentos o novo ainda não seja visível, mesmo que só se perceba claramente a triste realidade das dificuldades”.
Assim, nessa hora mais escura do atual contexto de purgação, convém refletir sobre o quanto andávamos distantes da vital essência humana. E sobre o quanto nossa arrogância nos distanciou da condição de seres que partilham um mesmo planeta. A crise abala fatalmente o sistema produtivo, mas ela é, antes de tudo, moral e ética. É humana. E se devemos aprender com os ciclos passados, que não seja a morte de 50 milhões de civis, como na Segunda Guerra, o estopim de movimentos por união e paz, como a criação da ONU, e por justiça social, como a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Nessa travessia, uma coisa boa já é visível: lúcidos humanistas e compassivos curadores estão se reconhecendo e se associando. Que a Força esteja com eles.