O que são cinco anos nesse mundo cada dia mais veloz? Logo ali, em fevereiro de 2020, a covid-19 varria o país num tsunami pandêmico. Durou pouco o clima de paz e amor, de gente esperançosa por um mundo melhor e todos agarrados à mesma pergunta: “e o que aprendemos com isso?”
Há exceções, mas, nós, seres bípedes, dotados de uma preciosa capacidade de raciocínio, ou não aprendemos nada ou, se aprendemos, quase nunca colocamos em prática.
A galera paz e amor aposta suas fichas futuras (e a vida de suas proles) na 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP30). Em novembro deste ano vão desembarcar em Belém (PA) de cientistas a alarmistas, de políticos a sonhadores. Parte deles vai apostar contra a banca. Outros, o dobro ou nada.
Esperançosos creem que encontros como esse contribuem para sensibilizar presidentes de repúblicas e ditadores de dinastias por um mundo melhor, livre de poluentes, onde todos podem usufruir do que resta da biodiversidade.
Curiosamente, enquanto a Amazônia ainda tinha fôlego para suportar o peso do mundo, quase ninguém dava bola para os avisos catastróficos.
Em março de 1990, o cientista brasileiro Carlos Nobre publicou o artigo Desmatamento Amazônico e Mudanças Climáticas, na Science, uma das revistas mais afamadas do gênero. Ou seja, muito antes de maio de 2024, os cientistas já preconizavam desastres sem precedentes, numa intensidade crescente. Mas não se preocupe, tudo vai mudar com a COP30.
Assim como a pandemia de covid nos ensinou, todos, sem exceção, vão se sentir sensibilizadas a acatar a sugestão dos cientistas, reduzindo pela metade a emissão de Dióxido de Carbono (CO2), o maior responsável pelo aquecimento global. E de onde vem o CO2? É liberado, principalmente, pela queima de combustíveis fósseis (ou seja, carvão, petróleo e gás natural). Simples, né?
Os que ainda acreditam na revolução com aroma de paz e amor podem fazer a sua parte, deixando de usar carros e motocicletas, por exemplo, para se locomover de bicicleta. Nesse sonho dourado, a Rua Sinimbu, por exemplo, viraria uma grande ciclovia. Seríamos case global de sanidade climática. Só que não.
Interromper a catástrofe climática, ou ao que metaforicamente Davi Kopenawa chama de “a queda do céu”, é o maior desafio da humanidade. Carlos Nobre, o cientista do apocalipse global, disse em entrevista ao jornalista Roberto D’Avila, na GloboNews, que se a temperatura na Terra aumentar em 2ºC até 2030 (atualmente batemos a marca de 1,5ºC), o risco é de extinção dos recifes de corais. “Se passar de 2,5ºC se extingue parte da biodiversidade oceânica”, enfatiza Nobre.
E pode piorar, diz o cientista. Se a temperatura do planeta superar 8ºC, a Terra será “inabitável para os humanos”.
E o que isso quer dizer? Nada. Porque, como seres humanos, não aprendemos quase nada e, se aprendermos, não colocaremos em prática.
Em resumo, como diz aquela música do Sex Pistols: “There’s no future”.