Faz 134 anos que Carlos Gardel nasceu. Para os franceses. Já para os uruguaios são 137 anos do seu nascimento. Data e local são controversos. Os dois países disputam a nacionalidade do artista de tango que conquistou o mundo e morreu em um acidente aéreo na Colômbia, em 1935. Até a Wikipédia, a enciclopédia livre da internet, não tem certeza e considera que pode ser Uruguai ou França.
Mas na banda oriental ninguém tem dúvida: Gardel é uruguaio de Tacuarembó. E ele mesmo, em uma entrevista ao jornal El telégrafo, confirmou ter nascido naquela região, no norte do país, a cerca de 112 quilômetros de Rivera, fronteira com o Brasil. Ao menos é o que o museu em sua homenagem, localizado em Valle Edén, sustenta.
Nas paredes do memorial, a página do periódico e outros documentos, como o registro de nacionalidade uruguaia de Gardel, que aponta o nascimento em 11 de dezembro de 1887 — para os franceses, o cantor nasceu neste mesmo dia, porém, em 1890, em Toulouse. Também há cópia da cidadania argentina de Gardel. O cantor construiu sua carreira em Buenos Aires e era chamado de El Morocho del Abasto (O Moreno do Abasto), bairro da capital onde morou durante a infância e adolescência.
O museu também garante que Gardel era filho do líder político local Carlos Escayola e de Maria Lelia Oliva, sua cunhada. Como era fruto de uma relação extraconjugal, foi dado para Berthe Gardés, uma francesa que o levou para Toulouse. Daí a versão de que Gardel nasceu na Europa.
Polêmicas à parte, visitar o Museu de Gardel em Tacuarembó é muito interessante. Dá para passear pela cronologia do artista, ouvir as canções icônicas como Por una cabeza, Caminito, El día que me quieras e Adios Muchachos, além de aprender, de forma didática e divertida, os passos do estilo musical que o consagrou.
Vale do paraíso
Valle Edén, localidade que abriga o Museu Carlos Gardel, é pequena e está distante do centro da cidade. Tem ainda um memorial aos motociclistas mortos e feridos nas estradas uruguaias e uma estação de trem desativada, com vagões antigos pintados com a imagem de Gardel. Mas o grande atrativo no distrito é a natureza, com trilhas, banhos de rios e cachoeiras e observação das estrelas — não à toa o nome é Vale do Edén.
Um Uruguai a ser descoberto
O turismo de natureza é forte no norte do Uruguai. En Lunarejo, a 107 quilômetros de Tacuarembó, a biodiversidade encanta. As trilhas para a Cascata do Índio e para a Cascata Grande estão entre as opções para os aventureiros experientes e também para os de primeira viagem, afinal, a caminhada é tranquila e te coloca em contato com um Uruguai pouco conhecido, muito diferente de regiões turísticas como Punta Del Este, Montevidéu e Colônia do Sacramento.
Em Minas de Corrales, a 62 quilômetros de Tacuarembó, os "cerros chatos" chamam a atenção pelo formato. São montanhas que lembram mesas, resultado da ação da erosão. Um deles recebeu o nome de Miriñaque que, em português, é crinolina: armação de saia em formato de gaiola. Alguém olhou para a montanha e achou parecida. Embora os 300 metros de altura possam assustar, a subida não é difícil, mesmo para um iniciante. A caminhada morro acima é prazerosa e a recompensa ao alcançar o topo é uma vista simplesmente incrível. Só subindo para saber.
Também dá para brincar de procurar ouro em Minas de Corrales. A cidade, a 90 quilômetros de Santana do Livramento, viveu o auge da extração do metal no século 19 e ainda conserva o tesouro em suas terras. Com tempo e paciência, e um pouco de técnica, é possível encontrar, talvez, alguns miligramas de ouro.
* Nota: Essa viagem aconteceu em julho. A motivação era fazer o trajeto de trem entre Tacuarembó e Rivera, que tem saídas duas vezes por semana, às segundas e sextas, às 7h, e retorno para Tacuarembó no mesmo dia, às 16h15min. Acabamos, meu marido e eu, visitando lugares que nunca havíamos imaginado conhecer. E nos encantamos ainda mais com o país vizinho.
Se você ficou com vontade de visitar também, aconselho ir de carro para facilitar os deslocamentos. Procure guias de turismo para fazer os passeios e trilhas, pois, em alguns locais, só é permitido entrar acompanhado de guias cadastrados. Além disso, os uruguaios são tão simpáticos que a companhia deles acaba sendo um presente.