Marliva Vanti Gonçalves tem na palavra e na empatia poderosos ingredientes que compõem sua mais completa tradução. Jornalista por escolha desde os 14 anos, hoje carrega o nome como sinônimo de credibilidade. A mestra em Comunicação e Semiótica garante que — O nosso nome é a credencial do jornalista — como ela frequentemente enfatizava aos acadêmicos da Universidade de Caxias do Sul, onde lecionou por mais de 25 anos. A filha de Darcy Gonçalves e Mafalda Vanti é mãe de Yan, 29 anos, publicitário radicado na Irlanda, e Jade, 23, psicóloga. A história de Marliva pode parecer linear à primeira vista: uma paixão imensurável pela palavra e pela imagem que iniciou cedo. Nascida em Caxias do Sul, foi moldada pela infância em Vitória, a adolescência em Goiânia e, finalmente, as raízes fixadas na terra natal.
Televizinha quando menina, Marliva cresceu fascinada pela “Bico Amargo” – o apelido carinhoso que dava a Hebe Camargo (1929-2012), ainda pequena, enquanto assistia à icônica diva da extinta TV Tupi. Esse fascínio plantou as sementes de um amor duradouro pelo audiovisual. Aos 19 anos, começou sua jornada como repórter na RBS TV. Era o início de uma trajetória profissional que, para ela, se alicerça em afeto e dedicação — Jornalismo é uma de minhas mais queridas crenças. Sempre foi — afirma, convicta.
Ao falar sobre o momento mais marcante de sua carreira, Marliva hesita — É difícil escolher. Destaco o começo, na escola RBS, onde exercitei minha identificação pelo vídeo. E também a docência na UCS, onde aprendi que somos todos estudantes e que o intercâmbio sensível em sala de aula é possível — Sua transição da "moça da TV" para professora universitária foi, como descreve, natural — Comecei como assessora de imprensa da Reitoria da UCS, depois coordenei o jornalismo da UCS TV. Tudo parecia um caminho reto, como a flecha lançada por uma sagitariana, nascida no dia 26 de novembro.
Essa simplicidade em narrar sua trajetória é acompanhada por uma visão precisa sobre a profissão — O Jornalismo, sempre que levado a sério, se preocupa com cada vírgula. É um ato de amor, esclarecimento e conhecimento. É uma vacina contra a ignorância — Sua defesa do Jornalismo ético e comprometido é carregada de emoção, assim como seu amor pela docência — Os estudantes me salvaram em muitas ocasiões. São meus companheiros históricos e inseparáveis.
Entre suas memórias de bastidores, destaca uma conquista que reflete sua essência — Consegui produzir um RBS Notícias inteiro somente com uma matéria porque acreditava que o tema necessitava de mais espaço. Convenci o diretor pela persistência e argumentação. Quando dizem que algo não vai dar certo meu coração se inflama — É esse mesmo espírito que a levou a liderar, em 1997, na UCS TV, a criação de uma programação de 24 horas com uma equipe composta majoritariamente por estudantes, um feito que ela relembra com orgulho.
A determinação de Marliva também está implícita no feminino, atuando em um ambiente historicamente masculino — Foi uma luta provar que mulheres escrevem, raciocinam e gerem tão bem quanto os homens. Ainda somos minoria em cargos de chefia, mas a competência e a determinação são as melhores respostas. Se não houver oportunidades, podemos criá-las.
A frase "A garota que lê é uma rebelde", que ela considera um mantra, sintetiza sua relação com a leitura e o conhecimento — Houve um tempo em que escrever e ler eram atos de rebeldia, e para mim, continuam sendo. Livros são símbolos de luta contra a irreflexão. Por isso, sou rebelde — Seus filhos, Yan e Jade, herdaram essa paixão pelas palavras e pela criatividade, transformando a casa da família em uma verdadeira biblioteca.
Aos 60 anos, Marliva segue com a chama pulsante do Jornalismo, acreditando na sua força transformadora — Se pudesse conversar com a Marliva de 19 anos, diria: faça uma poupança. Jornalistas enfrentam muitos desafios, mas também vivem aventuras inesquecíveis — E se pudesse deixar uma mensagem às mulheres, seria: "Rebelem-se contra a ignorância. Com argumentos fortes e visão alargada, encontramos nosso lugar no mundo.
A trajetória da profissional Marliva Vanti Gonçalves é, acima de tudo, uma jornada de paixão: pela informação e por gentes. Uma história que reflete a representação de uma jornalista, professora e eterna rebelde que vive o Jornalismo como uma missão de vida — Prazer, sou a Profe Marliva.
Nos versos de Marliva:
Mira no céu, aponta a flecha. Acerta o alvo. O centauro persiste.
Além da imaginação existem outros eus.
Rir de si próprio. Ter sempre razão, pra quê?
Ler é libertar-se. Ponto.
Insano processo de faxina mental contínua.
Vidro, vidro meu...Sou mais modesta, cotidiana e resistente que “a sombra”.
Aliás, ser rebelde é ter coragem de prosseguir sonhando.
- A palavra mais nobre da Língua Portuguesa...visão.
- Um livro para reler: Cem Anos de Solidão, de Gabriel García Márquez; O livro do Desassossego, de Fernando Pessoa; dos brasileiros: Grande Sertão, Veredas, de Guimarães Rosa; Dom Casmurro, de Machado de Assis; todo livro da Clarice Lispector e do Érico Veríssimo e todo conto da Lígia Fagundes Telles.